Erros, vaias e insultos

Se é verdade que precisamos de uma reflexão sobre o futuro da liderança, não é menos verdade que precisamos, sobretudo, de uma reflexão sobre como nos organizamos e funcionamos. Precisamos também de um congresso de revisão estatuária.

No final do dia 30 de janeiro de 2022 o PPD/PSD despertou para o pesadelo pós-eleitoral.

A maioria absoluta de António Costa lançou um balde de cubos de gelo em cima de um partido que se vinha a convencer da possibilidade de ter um governo liderado pelo PPD/PSD.

Não só não venceu como teve uma percentagem inferior à de 2019, com um caderno eleitoral que perdeu cerca de cinquenta mil eleitores.

Acresce que tivemos, praticamente, mais trezentos mil eleitores a votar do que em 2019, sendo que desses o PPD/PSD só conseguiu captar cerca de oitenta mil.

Estes indicadores dizem-nos que não fomos a força mobilizadora.

Resulta dai evidente três conclusões.

Em primeiro lugar, a derrota da estratégia política, alicerçada no “Portugal ao Centro”.

Não só o PS conseguiu ir buscar votos à esquerda, como segurou o eleitorado de centro que Rui Rio queria conquistar.

Acabou por ser o eleitorado base do centro-direita do PPD/PSD que nos aguentou nos 27%.

Os partidos ao centro não tendem a segurar eleitorado. Podem obter resultados interessantes quando surgem, mas não se apresentam como verdadeiras alternativas políticas e acabam por se desvanecer. O PPD/PSD, não sendo um partido que surge nestas eleições, estava fadado a não representar qualquer elemento inovador por via dessa estratégia.

Aliás, basta olhar para Espanha e entender o exemplo do Ciudadanos, ou então, recuar no tempo e olhar para o exemplo Português do PRD. Ambos tiveram resultados muito interessantes quando surgiram, mas depois esfumaram-se pela apatia ideológica que um partido do centro tende a representar.

Em segundo lugar, a derrota da estratégia de comunicação política.

Esta ideia de que os portugueses são tontos e que basta “falar verdade” para que eles venham a correr, é de quem não compreende que os portugueses veem a verdade todos os dias. É não compreender que o que precisam é de alguém que apresente objetivos concretos, com prazos concretos.

É também de quem não sabe tirar lições da história política: em 2009 a estratégia também assentou em falar verdade aos portugueses, e teve uns míseros 29%.

Um exemplo claro do desnorte estratégico do PPD/PSD (e que fragiliza lideranças e resultados) foi o caricato episódio à volta das linhas vermelhas à extrema-direita. Tivemos Rui Rio a marcar a fronteira inultrapassável, afirmando que o Chega não seria um parceiro possível, para a três dias das eleições um vice-presidente vir dizer que, afinal, não existiam linhas vermelhas.

Este episódio representa um golpe na estratégia política, porque afastou o eleitorado de centro, com o receio de uma coligação com a extrema-direita, e um golpe comunicacional porque destruiu a mensagem de confiança e moderação que Rui Rio tentava transmitir, descredibilizando-o.

Em terceiro lugar, a derrota da estratégia ideológica que levou à perda da confiança do eleitorado à direita. E o que se torna potencialmente perigoso é que se está a consolidar em projetos políticos alternativos que surgiram do abandono do PPD/PSD à sua matriz.

A Iniciativa Liberal e o Chega, que surgiram no consulado de Rio, representam atualmente o maior risco para o futuro da social-democracia portuguesa. O primeiro porque parte da mesma base ideológica do PPD/PSD, tendo já canibalizado o CDS-PP. O segundo porque capturou um segmento de eleitorado revoltado e descontente que ameaça fratura social.

Como constatação do que afirmo, recordo que estes dois partidos, em conjunto, aumentaram cerca de quinhentos mil votos desde 2019, e o CDS-PP só perdeu cento e cinquenta mil…

Por tudo isto, sempre o defendi e tenho aqui de o reafirmar, que o PPD/PSD tem de regressar à sua matriz ideológica de centro-direita progressista e plural, para ser o motor de esperança para o desenvolvimento do país.

Depois desta análise aos resultados eleitorais, importa uma análise ao dia seguinte do PPD/PSD.

Desde logo repudiar que alguns militantes assobiem jornalistas quando estes fazem perguntas incómodas, mas legítimas. Quem não compreende que a imagem do partido junto da sociedade fica prejudicada por esse ato de clubite cega, não pode estar a fazer política.

Também repudiar quem, ignorando um princípio basilar da democracia, culpa os portugueses pelo resultado eleitoral. A culpa nunca é de quem queremos servir, é de quem não sabe explicar de que forma é que os quer servir.

Em nome de todos os verdadeiros sociais-democratas, quero pedir desculpa aos portugueses por este insulto à democracia.

Se é verdade que precisamos de uma reflexão sobre o futuro da liderança, não é menos verdade que precisamos, sobretudo, de uma reflexão sobre como nos organizamos e funcionamos. Somos uma estrutura alicerçada numa organização dos anos 70 do século passado. Precisamos também de um congresso de revisão estatuária.

O país e o partido precisam que a discussão do PPD/PSD comece dentro e não fora. Porque esse, também tem sido o erro de base dos últimos anos.

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