Golpe no Burkina Faso condenado pelas organizações internacionais

O Presidente Roch Kaboré foi detido por um grupo de militares revoltosos. O golpe foi celebrado nas ruas da capital pela população frustrada com a falta de segurança.

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Derrube de Kaboré foi celebrado nas ruas de Ouagadougou Lambert Ouedraogo / EPA

A comunidade internacional uniu-se na condenação do golpe de Estado no Burkina Faso que afastou do poder o Presidente eleito, Roch Kaboré. Mas nas ruas da capital, a acção dos militares foi saudada pela população.

Na segunda-feira, um grupo de soldados rebeldes confirmou a detenção de Kaboré, o chefe de Estado eleito em 2015 depois de uma longa ditadura que enfrentava uma enorme contestação popular por causa da falta de segurança no país.

Os responsáveis pelo golpe, um grupo que se apresentou como o Movimento Patriótico para a Salvaguarda e Restauração, apresentaram uma carta alegadamente redigida por Kaboré em que se demite do cargo. “No interesse da nação, após os eventos que decorreram desde ontem [domingo], decidi abandonar o meu papel como Presidente do Burkina Faso”, lia-se na carta, de acordo com a Reuters.

Até terça-feira ainda não se sabia qual era o paradeiro de Kaboré, embora os militares revoltosos tenham dito que o chefe de Estado estava num local seguro.

Os líderes do movimento golpista também anunciaram a suspensão da Constituição, a dissolução do governo e do Parlamento e o encerramento das fronteiras – entretanto reabertas na terça-feira, diz a Reuters. A “ordem constitucional” será reposta dentro de “um tempo razoável”, afirma o comunicado assinado pelo líder do movimento, o tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba.

O derrube de Kaboré – que tinha sido eleito em 2015 depois do fim da ditadura de Blaise Campaoré, que esteve mais de três décadas no poder – foi condenado por vários países e organizações internacionais. O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse acompanhar com “profunda preocupação” os acontecimentos no país africano e lembrou que o papel do exército é “defender o país e o seu povo, e não atacar o Governo e lutar pelo poder”.

A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEAO), um bloco regional ao qual o Burkina Faso pertence, também condenou o golpe e disse que a demissão de Kaboré foi “obtida sob ameaça, intimidação e pressão dos soldados após dois dias de motins”.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, mostrou preocupação com a situação política na antiga colónia, mas revelou ter conhecimento de que Kaboré estava “bem de saúde”. Paris quer marcar uma cimeira com líderes regionais para debater o golpe no Burkina Faso.

O afastamento de Kaboré é o sintoma de um descontentamento generalizado no país com as condições de segurança. O Burkina Faso tem sido assolado por ataques de grupos terroristas ligados ao Daesh e à Al-Qaeda que actuam na região do Sahel.

Em Ouagadougou, a capital do país, o derrube do Presidente foi celebrado por centenas de pessoas, que esperam um reforço imediato da segurança. “É a libertação de um país que estava a ser governado por pessoas incompetentes”, dizia a professora Julienne Traoré à AFP. No meio das celebrações, algumas pessoas queimaram uma bandeira francesa, descreve o correspondente da Reuters, num sinal de frustração crescente com o papel de Paris na região.

Há quase uma década que a França tem uma forte presença militar na região do Sahel para combater os grupos terroristas que ali operam. Desde o ano passado que o Governo francês está a reduzir o destacamento militar, embora a ameaça dos grupos armados subsista.

A ausência de progressos em termos de segurança tem sido uma fonte de instabilidade política na região. Dos quatro países envolvidos nas operações antiterroristas no Sahel, apenas o Níger mantém um chefe de Estado democraticamente eleito – antes do Burkina Faso, golpes militares no Mali e na Guiné-Conacri derrubaram os respectivos governos.

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