Sever do Vouga: na antiga escola do Calvário agora dão-se aulas de expressão dramática

A Severi – Associação Cultural de Sever do Vouga transformou o antigo estabelecimento de ensino numa casa da cultura. Por ali passam, todas as semanas, cerca de 50 severenses.

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Adriano Miranda
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Uma das maiores “obras” da Severi – Associação Cultural de Sever do Vouga começou a ser criada em tempos de confinamento. Ao constatar que a antiga escola básica da vila estava desactivada, a direcção da colectividade decidiu pedir à câmara municipal para ocupar parte daquele imóvel e deixar de andar com a casa às costas para ensaiar. Com o país fechado em casa, arregaçaram as mangas e começaram a fazer obras na área que lhes foi cedida – primeiro piso. Passaram, assim, a contar com duas salas e um espaço de arrumos onde, semanalmente, ensaiam cerca de 50 pessoas, entre crianças e adultos. A inauguração está prevista para Março, por alturas do quinto aniversário da associação, mas o espaço já vive dias de azáfama.

As sextas são os dias de maior movimento. Estão reservados para as crianças, que rodopiam entre as duas salas. Os outros dias são mais calmos, entre ensaios com o grupo principal e reuniões de trabalho, mas nem por isso menos produtivos. Testemunho disso são as três peças de teatro que a Severi conseguiu estrear em tempos de pandemia, levando cerca de um milhar de pessoas ao Centro das Artes do Espectáculo de Sever do Vouga. “Faltam-nos alguns ensaios de palco, no espaço de actuação, mas reconhecemos que ter este espaço, na escola, faz toda a diferença”, destaca Patrícia Fernandes, presidente da Severi.

No dia em que o PÚBLICO por lá passou, os mais novos ensaiavam algumas cenas das peças Branca de Neve e Cinderela, retomando o calendário de actividades após o período de férias de Natal. Íris Melo de Carvalho, de dez anos, confessava estar ansiosa por voltar a subir a um palco. Ainda que goste de participar nos ensaios, perante o público sente outra satisfação. “Dantes ficava nervosa e tinha muita vergonha, agora já começo a ficar habituada”, contava. Fã incondicional destas aulas de teatro é também Dinis Portela, de nove anos, que se orgulha de já ter desempenhado vários papéis. “Já fui um soldado da Primeira Guerra Mundial”, enumera.

No grupo dos adultos, o entusiasmo também é grande. “Sempre gostei de representar, já desde os tempos da catequese, mas o sonho esteve adormecido e despertou na altura em que fundámos o grupo”, testemunhou Mário Silva, professor de 53 anos que, além de actor, é um dos fundadores da Severi. Já perdeu a conta aos papéis que desempenhou, “alguns pouco ortodoxos”, brinca, destacando, acima de tudo, o ambiente que se vive dentro e fora do palco. “Adoro esta vivência do grupo”, realça. Já Ana Paula, de 25 anos, encontra neste projecto uma forma de aplicar os conhecimentos que adquiriu durante o ensino profissional. “Estudei Teatro e esta é uma forma de não deixar morrer o ‘bichinho’”, confessou a auxiliar educativa, que já vestiu a pele de “cozinheira francesa, de Julieta e de Corregedor do Auto da Barca do Inferno”.

Criar hábitos culturais

Em cinco anos de existência, a Severi orgulha-se de ter conseguido conceber e apresentar nove produções, num total de 24 espectáculos. Com adultos, com crianças e também com a comunidade. “A cada ano, fazemos um projecto com a população”, nota Patrícia Fernandes. Em 2018, integraram 13 severenses no projecto Dou Mais Tempo à Vida, representando os doentes oncológicos que não baixaram os braços, lutaram e venceram a doença. Em 2019, chamaram nove habitantes do concelho para participar no Auto da Barca do Inferno.

O foco da associação passa por “continuar a construir públicos e criar hábitos culturais no concelho”, frisa a presidente, consciente de que a missão se torna um pouco mais exigente para quem está num município mais a interior da região da Aveiro. “É mais desafiante, mas, ao mesmo tempo, também faz toda a diferença na vida destas crianças e jovens”, remata.

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