A memória contra os delírios violentos do presente

Quebrada a experiência social do tempo, e quando a histeria e o ressentimento percorrem, virulentos, as redes sociais, fazer exercícios com a memória é sempre uma prática oportuna. Recue-se, então, a 2002. Nesse ido ano, enquanto a cidade do Porto ainda despertava de 2001, o Museu de Serralves, sob a direcção artística de Vicente Todoli, afirmava uma luminosa programação internacional, com Nan Goldin, Dan Graham, Richard Tuttle, Cristina Iglesias, Tobias Rehberger. Em Lisboa, Jurgen Bock tinha trazido a Belém propostas de Renée Green, Alan Sekula, Harun Faroki/Elleanor Antin ou Heimo Zobernig. E o Museu do Chiado, pela iniciativa de Pedro Lapa, havia sido palco de exposições individuais de Stan Douglas, Man Ray, Jimmie Durham, Gilliam Wearing e da colectiva Live in your head, Conceito e experimentação na Grã-Bretanha. Dentro de três anos, a Culturgest, com a programação artística de Miguel Wandschneider, viria a enriquecer este cenário que em 2002 já se manifestava, pela abundância e diversidade de propostas, inédito. Ainda que o país persistisse na velha macrocefalia cultural (Lisboa e Porto à cabeça), as instituições das artes visuais pareciam finalmente em contacto com a história da arte moderna e contemporânea, ao mesmo tempo que davam visibilidade à produção local, mostrando aos espectadores aquilo que os artistas e as artistas, entre nós, faziam ou fizeram. Uma breve consulta do que, em termos de exposições, foi esse ano, bem como dos que se lhe seguiram, permite constatar a vibração animada da época, com todos os seus equívocos e certezas.

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