E assim se faz História…

Falta um Plano estratégico para a região que se materialize de forma temporal e que, com soluções sustentáveis, seja capaz de resolver todas as dissonâncias já identificadas em múltiplos estudos. Chega de análises. É hora de implementar no terreno os resultados de tanto e tanto trabalho em que se procurou identificar e diagnosticar o que entrava o seu desenvolvimento.

O tempo passa, quase sem dele darmos conta e vai fazendo a sua história que, com mais ou menos intensidade, vamos vivendo nesta nossa travessia por um mundo cheio de contradições, em que o belo e o excelente se cruzam e convivem, lado a lado, com as disfunções que a Natureza e o Homem lhe imprimem.

Em ano de Celebração OFICIAL de 20 anos de classificação do Douro Património Mundial atrever-me-ia a dizer, enquanto mulher, nascida e apaixonada por esta Terra que me viu nascer já lá vão 72 anos, que este Património de Excelência, onde a Mãe Natureza de criação divina e as gerações de homens e mulheres que por aqui passaram fizeram desta região um Património de reconhecimento recente, mas, historicamente, de realidade existencial que atravessa séculos!

A qual, ao longo do seu percurso, emoldurada num cenário real de paisagem natural e construída, soube sempre ser uma Região onde os seus actores foram criativos e lutadores. Ora projectando-a no Mundo com um produto único que aqui criaram – o designado Vinho do Porto, o chamado Vinho Fino, porque de Fino se trata –, ora graças àqueles que, com o seu saber, o seu trabalho e a sua paixão, conseguiram este galardão de reconhecimento Mundial.

Assim, tornaram esta terra de estreitos e profundos vales, “de tesouros e riquezas adormecidas”, como tão bem diz Marie Line Darcy, um lugar a ser descoberto por aqueles que a visitam e se deixam encantar por tudo o que ela oferece.

Valências múltiplas atravessadas por um Rio que as une e que com elas convive ajoelhado a este altar de montanha, em que os vinhedos são jardins pintados de cores diferentes que o artista vai retratando, acompanhando o ciclo temporal do ano.

Altar sustentado por muros e muros de pedra em que o engenho do Homem se revela sem limites…

Oliveiras esculturais que, atravessando anos sem fim são marcas do tempo, que gritam a sua presença como se de castiçais se tratasse, produzindo uma Luz que as ilumina…

Seria injusto não referir quer as gerações passadas quer as presentes, que no seu dia-a-dia são o pilar fundamental da sua sustentabilidade – os Durienses –, que aqui continuam a viver e a lutar, muitas vezes confrontando-se com adversidades, cuja voz não tem eco junto do poder decisivo que lhes devia prestar mais atenção, ajudando-os a conferir a dignidade sócio-económica a que todo o Ser Humano tem direito!

A consciência do exercício de uma responsabilidade social quer ao nível público, quer privado, será de vital importância e o primeiro grande desafio para a Manutenção desta região enquanto classificação de Paisagem Evolutiva e Viva.

Vários estudos demonstram e revelam a grave desertificação que o Douro tem vindo a sofrer nos últimos anos, apontando claramente a Estratégia a seguir para a sustentabilidade de um Território que todos queremos manter – criar condições que tornem a Vida dos que aqui vivem e trabalham um lugar com dignidade!

Sem Gente não há Património, não há Paisagem, não há Douro!

Tenhamos consciência plena desta Realidade!

A identidade que sinto com esta Terra tem feito que, na vivência do meu dia-a-dia, esta verdade esteja presente, tornando-se a meu ver um dos grandes desafios para os anos vindouros.

Muito se tem feito nestes últimos anos, mas muito há ainda a fazer.

Falta um Plano estratégico para a região que se materialize de forma temporal e que, com soluções sustentáveis, seja capaz de resolver todas as dissonâncias já identificadas em múltiplos estudos. Chega de análises. É hora de implementar no terreno os resultados de tanto e tanto trabalho em que se procurou identificar e diagnosticar o que entrava o seu desenvolvimento.

É necessário dar a conhecer o Terroir, desenvolver novas sinergias, divulgar e promover produtos de qualidade, como os Vinhos e a oferta enoturística, sem receio de desenvolver uma Política de Valorização do Produto. Estes são alguns dos caminhos a percorrer derrubando obstáculos que, até ao momento, se têm apresentado como entraves ao Desenvolvimento da Região.

Não esqueçamos que todos estes propósitos exigem definição de políticas públicas e privadas, acertadas entre si, de forma a pôr fim a um vazio onde a falta de interacção e comunicação são entrave à sustentabilidade do território que todos ambicionamos.

O reconhecimento conseguido foi também de grande importância para ajudar a sociedade civil a aperceber-se do grande valor da terra onde vive e, assim, poder contribuir para a sua preservação e salvaguarda.

Neste contexto há que louvar a ajuda daqueles que, de forma apaixonada, têm dado muito do seu tempo e do seu saber constituindo-se numa associação que, desde 2002, tem funcionado como um observatório que vai apelando e denunciando de forma construtiva quando tem conhecimento de intrusões na paisagem que possam pôr em perigo o galardão atribuído. Tem feito trabalho notável noutras vertentes como a da Educação, desenvolvendo junto dos mais jovens – os Futuros Durienses – o orgulho da Terra onde vivem, respeitando-a e proporcionando-lhes conhecimento, extensivo aos que constituem os corredores de aprendizagem – os professores. Implementar no curriculum destes jovens uma área formativa vocacionada para o conhecimento da componente regional seria de grande utilidade.

Fomentar a autoestima e apresentar as possibilidades que o Douro lhes pode oferecer será seguramente um contributo sério para contrariar o êxodo a que todos os anos assistimos. Dar a conhecer a História mais recente do Douro mostrando e divulgando as novas potencialidades que têm contribuído para a afirmação da sua notoriedade.

Tome-se como exemplo os Vinhos DOC Douro, onde o contributo da UTAD na área da viticultura e da enologia se mostrou de grande relevância, e a componente enoturística, que se manifestaram como novas âncoras no desenvolvimento da região.

São estes exemplos que nos devem orgulhar e acreditar que o Douro e as suas Gentes merecem Respeito e Admiração!

O momento é Festivo, é de Alegria, de Esperança… mas nem por isso deve deixar de ser de Reflexão e Propósitos a cumprir!

Façamos história que nos perpetue no Tempo!

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