Direitos dos idosos, direitos humanos

É necessário apostar e reforçar os cuidados de saúde e o apoio social no domicílio, com cuidados individualizados e centrados na dignidade de cada um.

É imperativo que olhemos os direitos específicos dos idosos como olhamos os direitos humanos em geral – universais, protegidos pela lei e parte do progresso das sociedades que devemos promover e defender. Com a pandemia de covid-19, este dever torna-se ainda mais urgente devido ao isolamento e às debilidades agravadas que milhares de pessoas, em Portugal, tiveram e têm de enfrentar.

No trabalho de campo e pelos corredores das unidades de saúde multiplicam-se as histórias de quem vive sem qualquer rede de apoio familiar ou institucional. A dar força a este facto estão os mais recentes dados da Operação Censos Sénior 2021 da GNR, que mostram a cruel realidade de 44.484 pessoas sozinhas em casa, porque os familiares diretos morreram ou a pandemia as obriga a um maior distanciamento físico dos seus entes queridos.

No interior, o isolamento é maior. E é também aí que vive uma grande faixa da população idosa. Mas nas cidades, o problema é igualmente preocupante.

Com as novas restrições impostas devido à covid-19, é necessário apostar e reforçar os cuidados de saúde e o apoio social no domicílio, com cuidados individualizados e centrados na dignidade de cada um. Neste Dia Internacional dos Direitos Humanos, renovamos este apelo.

A saúde – física e mental – ressente-se com os efeitos negativos das limitações dos contactos sociais, existindo maiores riscos para os idosos, conforme conclui o estudo Social Isolation and Loneliness in Older Adults. Nos Estados Unidos, onde foi realizada esta investigação, aproximadamente um quarto dos americanos com 65 anos ou mais são considerados como pessoas “socialmente isoladas”. Já na faixa etária dos 50 anos ou mais verifica-se uma maior probabilidade de serem experienciados fatores de risco, que podem causar ou agravar o isolamento social ou a solidão, como: viver sozinho, perda de membros da família ou amigos, prevalência de doenças crónicas, entre outros.

Apesar de tão prevalentes em várias idades e em diferentes geografias do mundo, como Portugal e os Estados Unidos, os recursos e a investigação sobre estes temas são ainda limitados. No caso dos mais idosos, os desafios demográficos que já existem e que teremos cada vez mais pela frente devem motivar uma resposta concertada, entre cuidados de saúde e apoio social.

Passos simples como incluir as situações de isolamento social nos registos clínicos, como qualquer outro fator de risco, são fulcrais. Até porque, por vezes, estão interligados com outras condições, designadamente mobilidade reduzida, problemas de audição e de visão.

Não há que começar do zero. Várias instituições, públicas, privadas e do setor social, já desempenham um importante papel na prevenção e também na operacionalização de iniciativas que combatem o isolamento. O que é necessário é a convergência dos vários operadores (sem ideologias, seja qual for a sua natureza: pública, privada ou social), integração de dados e, sobretudo, uma estratégia balizada em saúde e direitos humanos para todos.

A dignidade e o valor da pessoa humana, a igualdade de direitos dos homens e das mulheres, o progresso social e as condições de vida dentro de um conceito amplo de liberdade bem podem ser medidos pela forma como tratamos os nossos idosos.

Hoje, são outros. Amanhã, somos nós.

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