Número de idosos em situação de risco aumentou em ano de pandemia

No Dia Internacional do Idoso a APAV divulgou dados relativos a 2020 que dão conta de 579 crimes por maus tratos físicos e 702 por maus tratos psicológicos. Desde 2013 que não havia tantos processos num só ano.

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Nelson Garrido

A APAV recebeu mais de 10 mil queixas por crimes e violência contra idosos entre 2013 e 2020, tendo atingido em 2020 o número mais alto de processos abertos, maioritariamente por crimes de violência doméstica.

De acordo com a informação estatística divulgada pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), a propósito do Dia Internacional da Pessoa Idosa, dos 10.307 processos abertos nesta série estatística sobre crimes e violência contra idosos, 1814 foram abertos em 2020, o número mais elevado num único ano desde 2013, batendo o máximo do ano anterior (2019), em que foram abertos 1615 processos.

“Entre 2013 e 2020, a APAV registou um total de 10.307 processos de apoio a pessoas idosas, em que 8458 foram vítimas de crime e de violência. Estes valores traduziram-se num total de 16.962 factos criminosos”, segundo o relatório da APAV.

Os crimes de violência doméstica representam quase 80%, de acordo com os dados, seguindo-se os crimes enquadrados na tipologia de crimes contra as pessoas (15,1%). Com uma prevalência residual registaram-se ainda crimes contra o património, contra a vida em sociedade e o Estado, crimes rodoviários e outras tipologias.

Nos registos da APAV relativos a 2020 constam 579 crimes por maus tratos físicos e 702 por maus tratos psicológicos.

As mulheres representam cerca de 73% das vítimas registadas entre 2013 e 2020. A maioria dos idosos vítimas de crime e violência são pais, mães ou cônjuges dos autores do crime, que são maioritariamente homens.

“O número de autores de crime contabilizados entre 2013 e 2020, ultrapassou o número de vítimas (8.458), ascendendo aos 8.730. Em mais de 64% das situações o autor do crime é do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 65 e os 74 anos de idade”, refere o relatório, que acrescenta ainda que são maioritariamente reformados ou desempregados.

Os dados mostram ainda que as vítimas sofrem violência e crimes ao longo de anos até apresentarem queixa. A duração da vitimação mais frequente é entre os dois e seis anos, mas em 2020 chegaram à APAV 74 queixas de vítimas que sofreram crimes e violência por mais de 40 anos.

Já o número de processos abertos em 2020 por queixas recebidas nos primeiros seis meses após o crime foi de 93, bastante superior aos 45 processos abertos em 2019 em relação ao mesmo período de vitimação.

Os crimes e violência ocorrem em mais de 54% dos casos na residência comum a vítima e agressor e 28,6% na residência da vítima. Cerca de 6% acontecem na via pública.

“Reconhecendo que a violência contra as pessoas idosas constitui um problema social e de saúde pública, consideramos que o seu eficaz combate pode contribuir para um futuro mais inclusivo, onde todos sejam respeitados ao longo do ciclo de vida, nomeadamente no contexto de um envelhecimento ativo e saudável”, defende a APAV.

A associação, que presta apoio jurídico, psicológico e social a vítimas e familiares, reitera que “estes crimes não podem ser remetidos ao silêncio” e lembra a importância de vizinhos e conhecidos das vítimas na denúncia de casos de violência.

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