Por uma Ecologia Política otimista

Confiar no ser humano como capaz de criar novos instrumentos e tecnologias que permitam a transição energética sem afetar o crescimento económico parece uma atitude bem mais construtiva e realista do que o dogma do fim do mundo e o catastrofismo dos fundamentalistas.

A tão badalada COP26 ou Conferência das Partes, em que cada Estado atualiza os seus compromissos em matéria de redução das emissões de óxido de carbono para a atmosfera, juntou em Glasgow, no mês passado, não apenas delegações de praticamente todos os governos do mundo, como também dezenas de milhares de ativistas das mais variadas organizações não governamentais direta ou indiretamente ligadas às questões ambientais.

O desfecho da reunião, tendo em conta os compromissos assumidos, em especial pelos governos dos países mais desenvolvidos, não pode deixar de se considerar francamente positivo.

Todavia, os ambientalistas mais ortodoxos, os que fazem das suas convicções um dogma de fé, que na realidade têm uma agenda política que vai muito para além de questões ecológicas e que não aceitam qualquer espécie de crítica (como sempre aconteceu com todas as Inquisições) mostraram deceção e fúria quanto aos resultados alcançados.

A sua visão necessariamente catastrofista exclui a consideração de quaisquer notícias positivas. A redução das emissões de carbono na União Europeia no decurso dos últimos 20 anos, o surgimento de novas tecnologias que permitem captar e neutralizar o carbono, a tendência geral, mesmo em países como a China e a Índia, para a gradual redução dessas emissões, sem sacrifício dos seus legítimos anseios de melhoria do bem-estar das populações (muito associado ao aumento da oferta de eletricidade a preço acessível) constituem notícias positivas e que por isso, para um ecologista catastrofista, devem ser silenciadas.

O crescimento da produção de fontes renováveis de energia é outra boa notícia, embora se conheçam os limites inerentes à dependência da energia solar e da energia eólica das condições meteorológicas, da intensidade do vento e do grau de insulação.

Por isso e para se obter uma produção de eletricidade maioritariamente dependente de energias limpas, a complementaridade com a produção de energia hídrica das barragens seria fundamental. A oposição a energia produzida pela água armazenada em barragens, com o fundamento de que destrói certos eco-sistemas, dificulta uma transição energética segura e firme para uma redução da emissão de carbono.

Em vários países, como no caso da França, tem havido movimentos de reação à implantação de torres de energia eólica e já existem várias decisões de tribunais no sentido de impedir a sua construção em certos locais.

Ora desconhecer a complexidade do problema e das soluções para o resolver é um sinal de irracionalidade e de imaturidade.

Sabe-se, aliás, que a evolução a longo prazo do clima depende igualmente de outros fatores, como as manchas solares e os raios cósmicos, e surgem algumas perplexidades quando o Painel Intergovernamental de Peritos (GIEC) refere no seu último Relatório que a grande redução das emissões de carbono em 2020, superior a 10%, devida à queda da mobilidade e de certas atividades económicas ligadas à crise da covid-19, não se traduziu, como seria de esperar, numa concomitante diminuição dos níveis de concentração de carbono na atmosfera.

Tudo isto mostra como a transição energética será complexa e como tal deve ser considerada, excluindo a visão simplista e dogmática dos ambientalistas fundamentalistas.

A conservação das florestas e da biodiversidade, bem como a luta contra a poluição dos oceanos e das águas em geral, consagradas na COP26, a aceleração (difícil embora) da economia verde, a melhoria da qualidade do ar na maioria das cidades europeias (devido à redução da emissão de óxido de azoto, de óxido de enxofre e de partículas finas), as novas tecnologias de neutralização das emissões de dióxido de carbono, a assunção generalizada de responsabilidades em matéria de ambiente pelo sistema bancário e pela generalidade das grandes empresas à escala mundial constituem excelentes notícias em matéria de proteção do planeta.

Confiar no ser humano como capaz de criar novos instrumentos e tecnologias que permitam a transição energética sem afetar o crescimento económico parece uma atitude bem mais construtiva e realista do que o dogma do fim do mundo e o catastrofismo dos fundamentalistas. Uma Ecologia Política inteligente e otimista, esvaziada de ideologia, começa a despontar e a afirmar-se como mais uma vitória das sociedades livres e democráticas, avessas a proibicionismos e racionamentos!

A autora é colunista do PÚBLICO e escreve segundo o acordo ortográfico

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