Luís Rebelo de Andrade. Pedras Salgadas

O podcast No País dos Arquitectos é um dos parceiros da Rede PÚBLICO.

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Eco Houses Pedras Salgadas, Luís Rebelo de Andrade Fernando Guerra
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Eco Houses Pedras Salgadas, Luís Rebelo de Andrade Fernando Guerra
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Snake Houses, Luís Rebelo de Andrade Fernando Guerra
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Capela Fernando Guerra
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Monte Avelames Fernando Guerra

No 20.º episódio do podcast No País dos Arquitectos, Sara Nunes, da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures, conversa com o arquitecto Luís Rebelo de Andrade. Ficamos a conhecer a intervenção, realizada pelo atelier Rebelo de Andrade, inserida no Parque de Pedras Salgadas e os desafios levantados pela paisagem, pelo cliente e pela identidade do lugar.

Luís é um óptimo contador de histórias e nelas viajamos até o processo de fazer o projecto: “Naquela obra, nós não estávamos só a fazer as Eco Houses e as Casas nas Árvores. Nós estávamos a fazer as Eco Houses, as Casas nas Árvores, a reabilitar o antigo edifício do Casino, a antiga igreja e o Hotel Avelames que, hoje, é o Monte Avelames. Aliás, as Casas nas Árvores (chamadas Snake Houses, como foram baptizadas pelo próprio atelier) acontecem em cima do Monte Avelames. Ou seja, em cima do antigo hotel, que fazia parte integrante da paisagem”, lembra o arquitecto.

As origens das termas de Pedras Salgadas, localizadas no concelho de Vila Pouca de Aguiar, remontam a 1879. As suas águas hipotermais foram amplamente utilizadas no alívio de diversas maleitas e, durante décadas, as termas tornaram-se num local de visita para milhares de pessoas. Porém, após a Segunda Guerra Mundial, com o avanço da medicina, a estância perdeu peso no mapa turístico e ficou devoluta. Onde outrora havia vida passou a existir isolamento, num interior cada vez mais desertificado. Passadas algumas décadas, a Unicer Turismo avançou com a reabilitação do parque, que envolvia as fontes onde é captada a icónica Água das Pedras e, entre 2007 e 2009, o histórico edifício do Balneário Termal foi reabilitado pelo arquitecto Siza Vieira.

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Nessa altura, sabia-se que a requalificação do Parque Termal das Pedras Salgadas fazia parte do Aquanattur, um projecto também integrado no investimento da Unicer. Tudo indica que uma nova administração da Unicer não cumpriu com os prazos de execução de obras e, em 2010, a população local mobilizou-se, saindo em protesto para exigir a conclusão deste Projecto PIN (Projectos de Potencial Interesse Nacional): “Todas as verbas que estavam disponíveis nesse PIN foram gastas no projecto de Vidago e Pedras Salgadas ficou esquecida. Isto criou uma revolta muito grande na população de Pedras Salgadas e de Vila Pouca de Aguiar, que obrigou a Unicer a respeitar os compromissos que tinha assumido com esse PIN (...). As pessoas estavam, de facto, muito incomodadas pela forma como a Unicer geria um património que elas sentiam como se fosse delas”, explica o arquitecto.

Num clima de injustiça, a população reclamou aquilo que considerava seu por direito e, em 2011, o arquitecto Luís Rebelo de Andrade é convidado para o projecto, que viria a incluir a construção das Eco Houses, a reabilitação do antigo Casino, a renovação da capela de arquitectura românica, a transformação do Hotel Avelames no Monte Avelames e a edificação das Snake Houses. Todas estas construções trouxeram alento económico ao território e o arquitecto, que prefere sempre os materiais autóctones aos importados, revela a importância da identidade do lugar: “Nós temos uma grande preocupação em cada lugar onde intervimos. Tentamos entender os lugares, tendo em conta o alfabeto desse lugar. (...) Nunca vamos buscar novas letras a outros sítios. Vamos usar as letras do local para construir o nosso romance, e sempre aplicando essas regras”.

Para além disso, Luís Rebelo de Andrade reconhece que, ao fazer arquitectura, não está só a fazer arquitectura. Ao “mexer num território”, pretende conferir qualidade aos espaços, tendo em conta a “vocação dos sítios”. As Eco Houses foram construídas de modo a criar relações mais íntimas entre o visitante e o parque. Projectadas como diferentes combinações de três módulos idênticos, as residências ecológicas, em madeira e ardósia, procuram camuflar-se com a própria paisagem sem nela se impor: “Como tínhamos um terreno muito orgânico, decidimos criar peças de lego. Ou seja, com módulos distintos. (...) Isto permitia-nos várias coisas. Permitia-nos, por um lado, assemblar (unir) estes elementos à volta das árvores sem ter de tocar nelas e dava-nos o conforto de termos uma arquitectura que acabava por ser sempre diferente por assumir volumetrias diferentes”, explica o arquitecto.

Todas as intervenções levadas a cabo pelo atelier tiveram como preocupação o tema da Sustentabilidade. Procurando reduzir o impacto no solo e a não interferência na captação “de uma das raríssimas águas gasosas que a natureza nos dá”, as Snake Houses surgem na paisagem de forma simbiótica, recriando o imaginário das casas na árvore: “Hoje tenho consciência que as Eco Houses e as Snake Houses também são as ‘rainhas’ desse parque, mas há aqui uma combinação entre aquilo que nós herdámos (e que é muito bom) e o que lá adicionámos, que não se confronta e não entra em discussão para tentar ver quem é o melhor. O que foi adicionado está integrado e cria valor acrescentado ao parque”, esclarece. As duas Snake Houses serpenteiam o seu caminho através das copas das árvores e sublimam as fontes termais e árvores centenárias que aí habitam. Para além disso, o arquitecto, preocupado com o tema da Mobilidade e criou um passadiço em madeira, que se estende ao nível do solo, de modo a proporcionar melhores acessos a quem tem a mobilidade reduzida.

Já o Hotel Avelames, “um edifício de arquitectura termal com uma identidade muito forte”, foi transformado no Monte Avelames. A Unicer pensava que seria necessário demolir o edifício inteiro, mas o atelier não partilhava da mesma opinião, por isso, nessa reabilitação ainda foi possível aproveitar o piso 0, que foi subsequentemente soterrado e agora acolhe algumas instalações técnicas fundamentais para o parque. À volta do parque de 20 hectares, outros edifícios foram reabilitados entre eles, o antigo edifício do Casino (que hoje se destaca pela sua pintura cor-de-rosa e funciona como um salão para eventos) e a reabilitação da Capela Pedras Salgadas (que permite a realização de diversas cerimónias religiosas).

Na entrada, localizam-se edifícios que servem para a arrumação de viaturas, viabilizando ainda a redução da pegada ecológica: “Os clientes não podem entrar dentro do parque com os seus próprios carros. Eles entram, têm um estacionamento por detrás da recepção e são encaminhados para as casas, através de carrinhos de golfe, de forma a que não haja poluição sonora e visual dentro do parque”.

Se outrora as pessoas vinham para este território em busca dos benefícios das águas de Pedras Salgadas para a saúde, hoje visitam o parque para estarem mais conectadas com a natureza, através de construções que se querem invisíveis na paisagem: “O curso que nos deram e a responsabilidade que temos (enquanto arquitectos) — em projectos a desenhar e a redesenhar as cidades e a reabilitar o património — eu entendo como uma responsabilidade que me é posta em cima e que tento levar muito a sério, nomeadamente em Pedras Salgadas, onde havia uma desconfiança enorme na intervenção que a Unicer lá queria fazer. Ou seja, o que eu quero dizer com isto é que foi ali que eu me apercebi que, no fundo, nós somos donos de um activo de uma propriedade, mas não somos donos nem do subsolo (isso está legislado), nem somos donos da paisagem. (...). Nós estamos a mexer num território que não é o nosso e que as pessoas vão ter de viver com ele”.

Este episódio permite-nos percorrer a intervenção no Parque de Pedras Salgadas, e os ensaios que são necessários realizar para “chegar à resposta certa para um determinado lugar”. Para compreenderem a intervenção de Luís Rebelo de Andrade e esta Arquitectura que anda de mãos dadas com conceitos como os da Sustentabilidade, do Turismo e da Mobilidade, ouçam a entrevista na íntegra.

No País dos Arquitectos é um dos podcasts da Rede PÚBLICO. Produzido pela Building Pictures, criada com a missão de aproximar as pessoas da arquitectura, é um território onde as conversas de arquitectura são uma oportunidade para conhecer os arquitectos, os projectos e as histórias por detrás da arquitectura portuguesa de referência.

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