Reciclar não é suficiente para conter a crise do plástico

A crise climática esteve entre os temas da edição deste ano da conferência Reuters Next. “O que precisamos é de limites na produção de plástico virgem”, concluíram especialistas.

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Nick Fewings/Unsplash

A reciclagem não será capaz de conter uma crise global de desperdício de plástico, disseram especialistas na sexta-feira, ao apelarem às empresas para reduzirem a produção de plástico e trocarem para embalagens reutilizáveis e recarregáveis.

A mudança dos plásticos de uso único para sistemas que permitam a reutilização está entre as soluções que os especialistas acreditam que poderiam aliviar o problema, mas são também necessárias mudanças radicais no sistema de produção.

“Não será possível apenas reciclar ou reduzir”, disse Rob Kaplan, CEO da Circulate Capital, que investe em projectos que querem resolver a crise dos resíduos plásticos. “É um problema do sistema e precisa de combinar soluções a montante e a jusante”, disse, num painel da conferência Reuters Next.  

O mundo produz anualmente cerca de 300 milhões de toneladas de resíduos plásticos, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Ambiente. Mas menos de 10% de todo o plástico alguma vez fabricado foi reciclado, em grande parte porque é demasiado caro recolher e separar. O resto acaba por ser despejado, enterrado em aterros ou queimado.

Como os sistemas de reciclagem falham, grandes empresas de bens de consumo, incluindo a Unilever, Coca-Cola e Nestlé, começaram a investir em projectos para queimar resíduos de plástico em cimenteiras para produzir combustível, revelou a Reuters em Outubro.  

Entretanto, prevê-se que a produção de plástico duplique até 2040 — algo que muitos críticos da indústria acreditam ser excessivo e o maior motor do enorme problema de resíduos que o planeta enfrenta. “A reciclagem não pode competir com a superprodução”, disse Von Hernandez da campanha Break Free From Plastic, uma aliança global que apela ao fim da poluição do plástico. “Portanto, o que precisamos é de limites na produção de plástico virgem.”

Embora não exista um regulador global ou tratado para a indústria do plástico, os oradores do painel afirmaram que os consumidores individuais podem ajudar a impulsionar as mudanças necessárias no comportamento empresarial e responsabilizar as empresas para o ciclo de vida dos seus produtos de plástico e onde eles vão parar.

“Os cidadãos e consumidores podem obrigar estas empresas [...] a revelar a sua pegada global de plástico e carbono, a reduzir a quantidade de plástico que produzem e colocam no mercado, e a reinventar realmente os seus sistemas de entrega”, disse Hernandez.  

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