Encurralados: homens, mulheres e crianças, muitas crianças

É cada vez mais difícil conhecer a extensão da crise e as condições em que se encontram milhares de pessoas, entre as quais muitas crianças, na fronteira da Bielorrússia com a Polónia. As organizações não podem chegar perto dos migrantes que estão encurralados do lado bielorrusso. Crescem os apelos para uma intervenção humanitária.

Ramil Nasibulin/BELTA/TASS/Getty Images
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Entre temperaturas baixas, falta de condições de higiene, falta de bens essenciais, tentativas e esperanças frustradas de pisar solo da União Europeia (UE), milhares de migrantes esperam e desesperam nas zonas florestais bielorrussas que fazem fronteira com a Polónia. Segundo relatos de refugiados, pelo menos dez pessoas morreram neste limbo fronteiriço nas últimas duas semanas: uma delas tinha 14 anos e não terá resistido ao frio, de acordo com informações de organizações não-governamentais polacas.

“Não nos foi dada nenhuma comida. (...) [Estão aqui] muitas crianças pequenas e idosos. Algumas pessoas estão doentes, outras não conseguem andar. Não há ajuda nem medicamentos. Todas as noites, a temperatura desce abaixo dos 0ºC. Faz tanto, tanto frio”, dizia à BBC Shwan Kurd, iraquiano de 33 anos, um dos migrantes que está preso do lado bielorrusso da fronteira há quase duas semanas.

Devido ao estado de emergência declarado junto à fronteira da Polónia, jornalistas e organizações humanitárias não podem chegar perto dos migrantes, o que dificulta os relatos da extensão da crise e as condições em que se encontram as pessoas. No meio desta incerteza, crescem os apelos por parte de activistas, da comunidade internacional para que haja uma intervenção para evitar uma crise humanitária.

Foi no início desta semana que a tensão escalou, depois de milhares de migrantes (entre dois a quatro mil) terem chegado à fronteira da Bielorrússia com a Polónia, acompanhados por forças de segurança bielorrussas.

Vários grupos têm tentado passar o arame farpado, confrontando a polícia polaca. Varsóvia, por sua vez, já destacou 15 mil soldados. Se conseguirem entrar, podem ser expulsos e ver o seu pedido de asilo ignorado – ambos os cenários estão previstos na lei polaca. Voltar para trás também não é uma opção, por causa das forças de segurança bielorrussas.

“Armadilha de Lukashenko”

Desde o Verão que grupos de migrantes têm chegado à Bielorrússia para entrar na UE, através da Polónia, da Lituânia e Letónia. Segundo as informações disponíveis, incluindo da União Europeia, vão para Minsk com a promessa de uma viagem segura até países da UE, através do pagamento de milhares de euros (entre seis e 15 mil), podendo incluir não só a viagem, mas também vistos turísticos concedidos pela Bielorrússia, estadias em hotéis e o transporte até às fronteiras.

Por esta razão, a UE acusa o regime do Presidente Alexander Lukashenko de organizar um “ataque híbrido” para pressionar o bloco europeu, ao usar os migrantes como peões políticos, numa vingança pelas sanções de Bruxelas pela violação dos direitos humanos e repressão de Minsk contra a oposição democrática e manifestantes que contestaram os resultados das últimas eleições. Lukashenko tem rejeitado de forma persistente as acusações.

Enquanto isso, durante os últimos cinco dias de elevada tensão o bloco europeu e os países ocidentais (membros do Conselho de Segurança da ONU) têm trocado acusações com a Bielorrússia e a Rússia, aliada de Minsk.

Para fazer frente à crise, o bloco europeu tem em vista a aprovação de um novo pacote de sanções contra indivíduos ligados ao regime e entidades bielorrussas, como companhias áreas, que possam estar envolvidas no transporte dos requerentes de asilo. Outra via, que já está em curso, é a realização de contactos com os países de origem dos migrantes e companhias aéreas, para passar a mensagem de que as garantias de Minsk são uma fraude, tentando assim impedir que caiam na “armadilha de Lukashenko”, como referiu a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Outra solução para ajudar os migrantes a regressarem aos seus países é a abertura de um corredor humanitário, hipótese levantada pela Lituânia, que deverá procurar o apoio da ONU para o fazer.

Ramil Nasibulin/BELTA/TASS/Getty Images
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