“Hamilton das favelas”: mais do que uma alcunha, uma pedrada no charco

Jovem piloto brasileiro tem sido comparado a Lewis Hamilton, com quem se identifica pelas qualidades dentro e fora da pista.

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Reuters/AMANDA PEROBELLI
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Um jovem piloto a competir nos circuitos brasileiros de corridas está a tornar-se conhecido com a alcunha de “Hamilton das favelas”. Wallace Martins, um adepto do britânico que já venceu o Mundial de Fórmula 1 em sete ocasiões, assume que gostaria de seguir as pisadas do piloto da Mercedes, dentro e fora de pista.

“Julgo que é um piloto muito dedicado àquilo que faz. Ele ganha uma corrida e está imediatamente a pensar em ganhar a seguinte”, ressalva Wallace, que actualmente compete na Fórmula Delta e cuja alcunha deriva das semelhanças (na aparência e no estilo de condução) em relação a Hamilton.

Aos 18 anos, o jovem brasileiro não tem qualquer problema com as comparações de que é alvo, até porque se identifica largamente com o britânico. “A história dele... Ele veio de um bairro pobre, é negro e é o único piloto negro na Fórmula 1. Há muito na história dele que é inspirador”, acrescenta.

Tal como Hamilton, que tantas vezes tem abordado o tema do racismo, Wallace Martins tem enfrentado um sem-número de obstáculos na carreira. Tem competido contra adversários que já correram nos EUA, enquanto ele nunca saiu do Brasil, e no início tinha de angariar dinheiro pelos próprios meios para as primeiras corridas. 

Na prática, o que aconteceu foi que, devido à falta de financiamento, fazia uma prova e depois falhava as duas ou três seguintes, enquanto os amigos e família vendiam t-shirts e organizavam angariações de fundos para que Wallace pudesse regressar rapidamente à pista.

“Nada disto tem sido fácil”, disse à Reuters. “Já melhorou bastante, mas ainda não é nada fácil”, insistiu. Ele, que teve de trabalhar como mecânico, durante a pandemia, a troco de comida para a família.

Como começou esta aventura? Wallace Martins entrou nas lides automobilísticas aos 10 anos e, depois de algum sucesso, subiu à Fórmula Vee, antes de chegar à Fórmula Delta. Soma oito vitórias e 21 pódios em 44 corridas e é o actual terceiro classificado na Copa Yokohama, troféu atribuído ao melhor piloto nas últimas corridas da época.

A última prova está marcada para 19 de Dezembro, no circuito de Interlagos, o mesmo que serve de palco à Fórmula 1. E a verdade é que os recentes artigos em redor de Wallace têm ajudado a atrair patrocinadores, lançando também para a mesa de debate a ascensão de um jovem humilde num desporto muito dispendioso.

“Todos os que vemos a correr têm um patrocinador e, quando vamos a ver, acontece que são filhos dos donos da equipa ou de grandes empresas. É um desporto muito elitista”, assinala Martins, que tem a perfeita noção de quão difícil é chegar à Fórmula 1.

Embora o Brasil tenha alguma tradição no meio, com nomes maiores como Ayrton Senna ou Nelson Piquet, o mais recente piloto do país a pisar o circuito foi Felipe Massa, que se retirou em 2017. E não há nenhum campeão mundial brasileiro desde Senna, em 1991.

Embora ainda um adolescente, Wallace Martins garante estar plenamente consciente de que, mesmo a este nível, a sua presença tem algo de simbólico. “Penso em ser, um dia, uma inspiração para os mais jovens, pela diversidade. Sinto que estou a quebrar barreiras e espero que outros jovens, como eu, possam chegar ao topo”.

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