Filme francês aproveita confinamento para mostrar “fragilidade” dos adolescentes

O filme, que vai ser exibido em estreia em Portugal, já foi mostrado na televisão pública francesa, desencadeando o debate sobre o efeito da pandemia nos mais novos, secundarizado pelo mais imediato e mortífero impacto na população mais sénior.

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“Teenage lockdown tale” será exibido na sexta-feira, às 19h, no Cinema São Jorge, em LIsboa DR

A média-metragem de origem francesa “Teenage lockdown tale”, que será exibida em Lisboa na próxima sexta-feira, aproveitou o confinamento imposto pela pandemia de covid-19 para mostrar “a fragilidade” dos adolescentes. “Há a ideia de que os adolescentes estão em transição, a caminho de mudar, mas eles são muito frágeis. Eles estão prontos para dizer aos adultos que são frágeis, mas ninguém os ouve, ou neles confia”, assinala a realizadora Charlotte Ballet-Baz, que estará em Lisboa para apresentar o filme, no âmbito do Festival Olhares do Mediterrâneo - Women's Film Festival.

“Ser adolescente é supre difícil, ninguém os ouve, ninguém lhes pergunta nada, não são considerados adultos, mas também já não são crianças, estão num espaço de permeio”, descreve. Em “Teenage lockdown tale” — também realizado por Marie Pierre Jaury e que será exibido na sexta-feira, às 19h, no Cinema São Jorge —, as restrições impostas pela pandemia e o seu impacto no quotidiano são vistas pelos olhos de adolescentes de 15 anos e filmadas pelos seus telemóveis.

Os adolescentes filmados, cinco dos quais acompanharão a realizadora até Lisboa, têm diferentes perfis e vêm de contextos sociais e económicos diversos. Também sofreram impactos distintos com o confinamento: alguns abandonaram a escola ou chumbaram a disciplinas, outros entraram em depressão, quase todos se sentiram muito isolados.

A cineasta assume ter ficado “chocada” com a falta de investimento direccionado para este grupo na escola. “Éramos duas realizadoras vindas do nada e demos-lhes um espaço que eles não tinham para conversar”, realça. “Todos os adolescentes que conhecemos estavam completamente perdidos, sem qualquer apoio. O confinamento piorou tudo, mas, mesmo antes do confinamento, já não eram seguidos. Há falta de ajuda individual”, lamenta.

Essa ajuda é necessária “não para dramatizar, mas para ter mais em conta” aquilo por que passam os adolescentes. “Os adolescentes são encarados, todo o tempo, como um grupo e não são acompanhados como indivíduos”, aponta.

O filme, realça Charlotte Ballet-Baz, foi feito “com eles”, a quem pediram “que se filmassem, permitindo-lhe expressarem-se e falarem sobre o que sentiam em relação ao confinamento”. Confessando que foi “um bocadinho difícil ao início” e que “levou algum tempo” a estabelecer uma relação de confiança, a realizadora considera que os dois meses de duração do primeiro confinamento permitiram que essa relação evoluísse e abrisse caminho até ao âmago.

“Não queríamos falar especialmente sobre a covid, queríamos que eles aproveitassem a oportunidade de desacelerarem e estarem em casa para pensarem em si próprios, nos seus sonhos e nas suas visões da vida”, explica.

O filme, que vai ser exibido em estreia em Portugal, já foi mostrado na televisão pública francesa, desencadeando o debate sobre o efeito da pandemia nos mais novos, secundarizado pelo mais imediato e mortífero impacto na população mais sénior.

O Festival Olhares do Mediterrâneo - Women's Film Festival vai regressar ao Cinema São Jorge, em Lisboa, entre 10 e 14 de Novembro, com 45 filmes e uma série de actividades. Entre essas está uma sessão sobre “Teenage lockdown tale” com alunos do 9.º ano e do secundário, na sexta-feira, às 10h30.

“As irmãs Macaluso”, de Emma Dante, galardoado com vários prémios na 77.ª edição do Festival de Cinema de Veneza, abrirá o festival, na quarta-feira. Caberá a “Holy boom”, de Maria Lafi, uma coprodução de Grécia, Albânia e Chipre, fechar o certame, no domingo.

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