Rui Moreira promete manter a “identidade do Porto”. E concluir o que ainda não foi feito

Num discurso de tomada de posse onde nem As Farpas de Ramalho Ortigão ficaram de fora, Moreira promete ser “positivo e agregador” e continuar a combater o centralismo. Aos independentes deixou o desafio de criar uma federação

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Nelson Garrido
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As Farpas de Ramalho Ortigão, que se sentia turista na sua cidade, a fervilhar de progresso, mas já sem a alma de outros tempos, deram o mote para a teoria de Rui Moreira. Agora, como naquele tempo, a mudança ocorre e a crítica é normal. Jurando admiração pela “cidade irresoluta” e com “capacidade crítica”, o autarca disse ser obrigação dos políticos incentivar “gritaria pública” quando necessário, mas sem travar o progresso. “Temos de saber ser firmes com os nossos compromissos e com a nossa sufragada visão de cidade”, anuiu.

No discurso da tomada de posse, proferido esta quarta-feira no Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota, Moreira comprometeu-se em “tudo fazer para manter a identidade do Porto”, manifestada nas “pequenas coisas” que Ramalho Ortigão citava e que agora o autarca encontra noutras geografias: “o restaurante da Rosinha em Campanhã, a Livraria Académica do Sr. Nuno Canavez ou do Café Corcel na Boavista”. Mas a identidade, continuou, não pode manter-se a todo o custo: “Advirto que é necessário alterar velhos paradigmas. Na mobilidade, no consumo, na utilização de recursos escassos como o espaço público, que deve continuar a ser resgatado... com ou sem os malfadados pilaretes, certamente substituíveis por civismo.”

Os projectos prometidos

Os projectos “que a pandemia atrasou” – o Mercado do Bolhão, o Terminal Intermodal de Campanhã, a recuperação do Cinema Batalha, a extensão da Biblioteca e o projecto do antigo Matadouro – ficarão prontos nos próximos anos, prometeu o autarca independente, eleito com o apoio do CDS e da Iniciativa Liberal (Francisco Rodrigues dos Santos e Miguel Rangel ​estiveram na plateia) e já com um acordo fechado com o PSD (a quem agradeceu o “sentido de responsabilidade”) para fintar a minoria no executivo.

Num discurso recheado de “testemunhas literárias” – e durante o qual Moreira furou o protocolo para agradecer à mãe, mulher, filhos, netos e irmãos presentes na plateia –, o autarca garantiu que o Porto “continuará a ser sempre uma voz de independência e de liberdade face aos poderes instalados, ao centralismo que em tanto prejudica o país”. E daí e do auto-elogio do seu “projecto independente” partiu para um apelo nacional: “Devemos promover a federação dos milhares de cidadãos que continuam a acreditar nos candidatos independentes.” O autarca do Porto recusou “qualquer cenário de liderança”, mas “total disponibilidade para ajudar a a dar corpo a esta ideia”.

“Porque é que daqui não poderá sair um novo movimento cívico que, combatendo a espiral de cinismo, o galopante fosso entre cidadãos e a política e sempre num respeito pelos partidos, aproxime os portugueses de um projecto político intransigentemente humanista e democrático?”

Apesar do executivo minoritário e de um esperado debate político mais aceso, Rui Moreira pediu mais união, prometendo ser “positivo e agregador” para enfrentar o “frio económico e político que se está a aproximar” depois do “Inverno pandémico”.

Aos presidentes das juntas de freguesia, foi prometido um “reforço das competências”, junto com os “recursos indispensáveis”. Campanhã, a freguesia mais oriental do Porto, também não ficou de fora. “Tenho a certeza de que esta zona da cidade tem condições únicas para ser uma alavanca de desenvolvimento para toda a cidade”, afirmou, elogiando os inquilinos que têm chegado àquela zona do Porto. “Eles não gentrificam a cidade. Dão-lhe o cosmopolitismo que uma cidade orgulhosa das suas raízes não pode recear.”

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