Lixo electrónico mundial acumulado em 2021 é mais pesado que a Muralha da China

São cerca de 60 milhões de toneladas de resíduos de equipamentos eléctricos e electrónicos só em 2021. Em 2019, apenas 17,4% deste tipo de resíduos foi reciclado.

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Vão ser acumulados em 2021 57,4 milhões de toneladas de lixo electrónico Eloisa Lopez

O mundo vai acumular 57,4 milhões de toneladas de resíduos de equipamentos eléctricos e electrónicos (REEE) em 2021, segundo uma estimativa do WEEE Forum (Fórum REEE), um grupo internacional de especialistas dedicado a combater o problema global deste tipo de lixo.

O total acumulado em 2021 é maior que o peso da Grande Muralha da China, o maior objecto artificial na Terra, compara a organização. Representa também um aumento de 7% face à estimativa de 2019, quando se acumularam 53,6 toneladas de REEE. O crescimento tem sido constante ao longo dos anos, com o registo de 2019 a ser 21% superior ao lixo electrónico gerado mundialmente cinco anos antes, em 2014.

O aumento não fica por aqui: as previsões do monitor global de REEE apontam para uma montanha de 74 milhões de toneladas no ano de 2030. O incremento anual tem estado na ordem dos dois milhões de toneladas anuais, uma taxa de 3% a 4% que o Fórum REEE justifica com a subida paralela do consumo de equipamentos eléctricos e electrónicos (aumento anual de 3%).

A análise, publicada nesta quinta-feira em que se assinala o Dia Internacional dos Resíduos Eléctricos, refere também que ciclo de vida dos produtos é agora mais curto, existindo uma opção limitada para a reparação dos mesmos – um problema que a União Europeia quer combater com a implementação do direito à reparação.

Outro grande problema é a acumulação deste tipo de equipamentos em casa. As estimativas europeias revelam que, em média, 11 em cada 72 itens electrónicos que existem numa casa já não são utilizados ou estão avariados. Por ano, um cidadão acumula em média quatro a cinco quilos de REEE antes de os deitar fora.

O director-geral do Fórum REEE, Pascal Leroy, refere que este é um ponto determinante para garantir um sistema mais “eficiente e circular: “Enquanto os cidadãos não devolverem os seus equipamentos usados e partidos, enquanto não os venderem ou doarem, teremos de continuar a extrair matéria-prima totalmente nova, causando grandes danos ambientais”.

Pascal Leroy realça, por isso, que o foco deste ano para o Dia Internacional dos Resíduos Eléctricos é o papel “crucial de cada um” na criação de uma realidade circular para os produtos eléctricos.

“Cada tonelada de REEE reciclada evita a emissão de cerca de duas toneladas de dióxido de carbono”, afirma.

A publicação alerta que apenas 17,4% dos REEE gerados em 2019 foram reciclados. Ruediger Kuehr, director do programa de sustentabilidade SCYCLE, da Organização das Nações Unidas (ONU), sublinha que o valor destes resíduos acumulados em “minas urbanas” é enorme – em particular os telemóveis, tablets, computadores e outros equipamentos tecnológicos de informação, mais acumulados por receios de violação de privacidade e falta de informação quanto a uma reciclagem apropriada.

“Uma tonelada de telemóveis deitados fora é mais rica em ouro que uma tonelada de minério de ouro”, refere. “Incorporados num milhão de telemóveis, por exemplo, estão 24 quilogramas de ouro, 16 mil de cobre, 350 de prata e 14 de paládio”. Recursos que podem ser recuperados e aproveitados num novo ciclo de produção, sem prejuízo adicional para o ambiente devido à extracção.

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