Novo chanceler da Áustria toma posse dois dias depois da demissão de Kurz

Alexander Schallenberg, visto como um aliado próximo de Sebastian Kurz, planeia trabalhar com o antecessor, que a oposição acredita poder vir a ser um “chanceler na sombra”.

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Alexander Schallenberg, o novo chefe do executivo da Áustria, foi indicado pelo seu antecessor LISI NIESNER/Reuters

Alexander Schallenberg – até agora ministro dos Negócios Estrangeiros – tomou posse esta segunda-feira como o novo chefe do Governo da Áustria, depois da demissão de Sebastian Kurz devido ao seu envolvimento numa investigação por suspeitas de corrupção. Está assim garantida a continuidade da coligação entre conservadores e Verdes, evitando a moção de censura que estava a ser preparada pelos Verdes.

Diplomata de carreira sem filiação partidária, Schallenberg, 54 anos, foi sugerido para a função pelo antecessor. Nascido em Berna, capital da Suíça, entrou na carreira diplomática em 1997. Conta relativamente poucos anos na política e em Junho de 2019 foi nomeado como ministro dos Negócios Estrangeiros, mantendo-se no cargo quando Kurz ganhou as eleições nesse ano.

Schallenberg disse ter em mãos “uma tarefa que implica um grande desafio” e, “apesar dos tempos conturbados, o país está a demonstrar um grande sentido de responsabilidade”. Anunciou ainda que vai trabalhar em estreita colaboração com o antecessor, enquanto líder da bancada parlamentar do conservador Partido Popular (ÖVP). “Qualquer outra coisa seria absurda em democracia”, justificou.

Juntamente com o novo chanceler, o até então embaixador austríaco em França, Michael Linhart, tomou posse como ministro dos Negócios Estrangeiros.

O Presidente da Áustria, Alexander Van der Bellen, elogiou o novo chefe do executivo, descrevendo-o como “um europeu convicto, o que é bom” para o cargo. Quanto a Linhart, afirmou não estar “surpreendido” com a sua nova função, devido à sua experiência diplomática.

“Esta crise governamental acabou. O trabalho, no nosso país, pode continuar. Com a atitude que [Kurz] tomou, manteve o governo a salvo e deu uma contribuição importante à protecção das instituições”, afirmou o chefe de Estado. Van der Bellen disse ainda que recuperar a confiança na coligação governamental depois da abertura da investigação vai requerer um trabalho árduo.

Nesta segunda-feira terminaram, assim, os quatro anos de liderança do mais novo chanceler austríaco (assumiu a função aos 31 anos). Kurz cedeu à pressão do parceiro da coligação governamental para deixar a chancelaria devido à abertura de uma investigação de corrupção que o envolvia e mais nove dirigentes do seu partido.

Em causa estavam suspeitas de terem sido usados fundos do Estado para manipular sondagens a favor de Kurz, depois publicadas na imprensa austríaca, o que o próprio e o seu partido negam.

A estas alegações somam-se outras que já recaíam sobre Kurz, que terá mentido perante uma comissão parlamentar que investigava o denominado “vídeo de Ibiza”, que envolveu o seu vice-chanceler e parceiro de coligação (do partido de extrema-direita FPÖ) e que conduziu à queda do Governo em 2019.

Schanllenberg é visto como um forte aliado de Kurz. Thomas Hofer, analista político e consultor em Viena, considera ser “um passo atrás”, mas apenas “na superfície”. “Schanllenberg é um aliado próximo e sairia de cena assim que Kurz lho dissesse”, disse Hofer, citado pela Bloomberg. A oposição acredita, aliás, que Kurz vai continuar a impor a sua influência como um “chanceler na sombra”.

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