Ministério analisa queixa contra colégio que entregou aos pais documento antivacinação de crianças

Em causa está o facto de encarregados de educação do colégio “O Pelicano”, em Lisboa, terem recebido de auxiliares uma carta aberta, datada de Julho, em que diversos médicos sustentam que a vacina contra a covid-19 tem poucos benefícios nos jovens e nas crianças, situação que motivou descontentamento.

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Carta defende que a vacina pode matar ou deixar sequelas permanentes Jose Fernandes / Arquivo

A Inspecção-Geral da Educação e Ciência vai analisar uma queixa de pais de um colégio de Lisboa que receberam uma carta aberta a defender que as crianças não deveriam ser vacinadas contra a covid-19, disse esta sexta-feira a tutela.

Em causa está o facto de encarregados de educação do colégio “O Pelicano”, em Lisboa, terem recebido de auxiliares uma carta aberta, datada de Julho, em que diversos médicos sustentam que a vacina contra a covid-19 tem poucos benefícios nos jovens e nas crianças, situação que motivou descontentamento.

Numa resposta escrita enviada à Lusa, a direcção do colégio explicou que recebeu a carta aberta e entendeu distribuí-la “aos pais do grupo de crianças dos três anos”.

Contactada pela Lusa, fonte do Ministério da Educação referiu que já deu entrada na Inspecção-Geral da Educação e Ciência uma queixa e que esta será analisada.

Pais descontentes. Não devem ser “as escolas a ditar a saúde pública”

Alguns encarregados de educação ouvidos pela Lusa manifestaram desagrado e perplexidade pela situação, considerando que não devem ser “as escolas a ditar a saúde pública”.

“Vi que estavam outros pais a receber os papéis, mas só quando cheguei ao carro vi o que eram. Como a educadora do meu filho está de baixa e não recebemos qualquer tipo de informação oficial até agora, pensei que era esse o caso”, começou por explicar Hugo Moura.

No entanto, depois de ler os documentos em questão, a carta aberta datada de 24 de Julho, em que diversos médicos sustentam que a vacina contra a covid-19 tem poucos benefícios nos jovens e nas crianças, decidiu ir buscar o filho e retirá-lo da escola em questão.

Hugo Moura explicou que até ao dia de hoje não tinha qualquer tipo de queixa contra o colégio O Pelicano, adiantando ter investigado sobre o mesmo na altura de escolher a escola do filho.

“Ainda estou a processar, não estava nada à espera. Vê-se que a primeira folha do documento é descaracterizada, não há logótipo nenhum do colégio, só se encontra datada de 30 de Outubro e é assinado pela Direcção do Colégio.

Para o encarregado de educação, “não são as escolas a ditar a saúde pública”, pelo que se mostrou desagradado com a “situação peculiar” que viveu hoje.

Outra encarregada de educação, que preferiu não ser identificada, confirmou igualmente que o documento de várias páginas tinha sido distribuído à entrada por uma auxiliar do colégio, na presença da directora da escola, que habitualmente se encontra numa das entradas a receber as crianças.

Na primeira folha do documento que foi facilitada à Lusa, tanto pelo encarregado de educação, como pela direcção da escola, lê-se: “Caros pais, os directores dos Agrupamentos de Escolas, de Escolas Secundárias, das Escolas Profissionais, das Escolas Básicas e dos Colégios Particulares recebemos a informação que juntamos”.

Numa resposta à Lusa via email, a direcção do colégio O Pelicano explicou ter recebido a carta aberta e ter entendido distribuir aos funcionários e aos pais a informação que chegou.

“No dia 30 de Setembro, a directora do colégio entregou estes papéis aos 19 funcionários. No dia 1 de Outubro foram entregues aos pais do grupo de crianças dos três anos”, refere a resposta assinada pela directora do colégio e vice-presidente da Fundação A Caridade, Marina Aires Pereira.

Em 24 de Julho deste ano, diversos médicos de diferentes especialidades mostraram-se contra a vacinação contra a covid-19 em crianças e jovens saudáveis, por considerarem que os benefícios de administração da vacina nesta população não superam os riscos.

Através de uma carta aberta, os especialistas sustentaram que o argumento de protecção dos mais idosos para justificar a vacinação em jovens “não é eticamente aceitável”, defenderam que a vacina tem poucos benefícios neste grupo etário, lembram que a doença se manifesta nesta população quase sempre de forma ligeira ou assintomática e apontam para alguns efeitos secundários mais graves, como uma relação das vacinas (Pfizer/BioNTech e Moderna) com um risco muito raro de inflamações cardíacas (miocardite e pericardite).

Rui Martins, da Confederação Nacional Independente dos Pais e Encarregados de Educação (CNIPE), avançou à Lusa “não ter tido qualquer tipo de queixa até ao momento” sobre este documento poder estar a ser distribuído em outras escolas do país.

“Não é normal [a situação]. Os pais que se negam à vacinação querem fazer prevalecer que esse é o caminho, mas tal não é correcto. Tem a ver com a corrente negacionista, que respeitamos, mas os números da vacinação falam por si”, acrescentou.

Fonte do Ministério da Educação indicou à Lusa não ter conhecimento do caso, nem de qualquer tipo de queixa.

Também contactado pela Lusa, Rodrigo Queirós e Melo, da Associação dos Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo, revelou não ter tido conhecimento “nem deste caso, nem de nenhum semelhante no sector de escolas que engloba”.

Na carta, que se dirige aos “pais, avós, famílias, professores, profissionais de saúde, agentes e militares das forças de segurança e a todos quanto se preocupam com a humanidade” pode ler-se, entre outras frases, “esta “vacina” pode matar ou deixar sequelas permanentes”.

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