A confissão

Nos dias que se seguiram ao acontecimento da confissão, deu-se uma mobilização total. Os jornais, a televisão e a rádio encheram-se de comentários e opiniões, acolheram querelas e debates, demarcaram o campo dos prós e dos contras. Na televisão, houve mesas-redondas sobre a confissão, onde pudemos ouvir a palavra de especialistas de vários saberes e latitudes: politólogos, historiadores, jornalistas, activistas das boas causas. Uns, mais pragmáticos, falaram das vantagens e desvantagens da confissão, da decisão sobre o tempo certo para ser feita, do modo como ela se tornou uma técnica do trabalho sobre si (o self, o soi), da incitação social e política a que responde. E ouviram-se então elogios à coragem da verdade, a que responderam os que não viram na confissão senão cálculo, impostura e manipulação. Outros, exibindo um conhecimento mais erudito da questão, disseram: “É preciso conhecer a história da confissão, remontar à tradição ascética e monástica, às regras da confissão cristã, para perceber os seus rituais; é preciso regressar ao Concílio de Trento para ver como aparecem, no interior da instituição eclesiástica, a par das antigas técnicas de confissão, novos processos e técnicas minuciosas”. “Não basta a história”, disseram outros, “é preciso sobretudo fazer arqueologia, uma arqueologia da confissão”. E, dizendo isto, foram buscar um arsenal de ideias e conceitos que falam da “vontade de saber”, do “uso dos prazeres”, das “confissões da carne” e do controlo sobre ela, nos primeiros séculos do cristianismo, da confissão como uma forma de poder e saber.

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