De quem é o 7?

A magia do 7 só podia ter o destino daquele que fez do 7 o sonho de todas as crianças dos bairros de todo o mundo, desde a Tailândia à Palestina, do Brasil a Conacri, do Japão à Venezuela e ao Afeganistão. E dos que gostam de futebol e da arte de marcar golos. A magia do 7 fez jus ao velho provérbio – o seu a seu dono.

A notícia ganhou asas e voou de um canto ao outro do planeta. Havia o dono do número e havia o eterno 7 que se fora e voltara. A quem se devia confiar o mágico número? Por esse mundo fora, embora sem voto na matéria, as opiniões sucediam-se e coincidiam – só podia ser do eterno 7.

Sendo o número perfeito, mágico, referido na Bíblia 360 vezes, é natural que o candidato agora chegado o cobiçasse devido a todos os seus atributos. Deus, ao sétimo dia, mandou toda a gente descansar para a Ele se poder dedicar. Quando o 7 entra a coisa fia fino. Lisboa tem 7 colinas e não é por acaso. Se tivesse 8 colinas a coisa não caía bem. 7 cai. Há 7 mares e 7 ventos e 7 dias tem a semana. 7 pecados mortais. E há o 7 estrelo que o Zeca Afonso cantava “que sabe sempre onde ir”, pelo menos na cantiga dos emigrantes.

De cima da abóbada celeste, habituada aos humanos desatinos, o Céu dos monoteístas, manteve-se na sua placidez. Que resolvam os mortais o imbróglio que tinham criado. E deixou correr o marfim.

A notícia chegou no dia 1 de setembro. Glória ao homem que rebenta todas as escalas e à ilha da Madeira que assistiu ao seu nascimento encantatório. A grande questão que pairou em toda a Terra foi resolvida a bem de todos. A perfeição chegou e o que tinha o 7 devolveu-o ao que o queria. Dizem os especialistas de mercados financeiros que o de futuros amainou e os 7 ventos passaram a correr de feição. Num só dia a camisola 7 vendeu centenas de milhares.

Os mercados moderaram as suas irritações logo que o 7 foi para quem devia. As bolsas recuperaram. Naquele estertor do dia, o de mil ardis recuperou o que só a si podia pertencer, dado o seu caráter meio humano, meio divino quando se trata de marcar golos.

 O Olimpo admirou-se de Marques Mendes não ter adivinhado a quem iria ser atribuído o 7.

O desportista que faz inveja a todos, o que ganha fortunas ao dia, e à hora o que quase ninguém ganha, fez as crianças mais pobres do mundo erguer os braços de contentamento.

Elas sonham ser o 7 que não serão, quando muito apenas uma será o 7, se for. Os meninos do planeta pularam quando viram que o 7 era finalmente dele de novo e quando ele, nesse mesmo dia, tirou a camisola com o 7 depois de ter cabeceado a bola às redes da Irlanda como o verdadeiro 7 que antes costumava ser o atributo do 9.

Ele, o sonho acordado, tinha de ser o dono do número. A magia do 7 só podia ter o destino daquele que fez do 7 o sonho de todas as crianças dos bairros de todo o mundo, desde a Tailândia à Palestina, do Brasil a Conacri, do Japão à Venezuela e ao Afeganistão.

E dos que gostam de futebol e da arte de marcar golos. A magia do 7 fez jus ao velho provérbio – o seu a seu dono.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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