Com Ronaldo, existe sempre o risco de ganhar

Cristiano Ronaldo sai deste jogo com menos peso nas costas. Marcou os golos que lhe valem o recorde de maior goleador de sempre das selecções nacionais, depois de ter falhado um penálti e ter estado ligado, a par de João Cancelo, ao golo da Irlanda. Portugal esteve em risco de perder, mas, com Ronaldo, está sempre em risco de ganhar.

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Tudo estava feito para Portugal perder em casa frente à Irlanda, nesta quarta-feira, mas dois golos de Ronaldo, aos 89’ e aos 90+5’, ambos de cabeça, permitiram à selecção nacional salvar-se de uma embaraçosa derrota caseira na qualificação para o Mundial 2022.

No 2-1 conseguido no Algarve, houve um autêntico “ponto-morto” na exibição, com uma versão pálida e inerte da selecção, mas, nas contas do grupo, Portugal não andou em “marcha-atrás” e foi buscar os pontos que, a serem desperdiçados, poderiam complicar as contas do grupo A.

Já Cristiano Ronaldo sai deste jogo com menos peso nas costas. Marcou os golos que lhe valem o recorde de maior goleador de sempre das selecções nacionais, depois de ter falhado um penálti e ter estado ligado, a par de João Cancelo, ao golo da Irlanda.

É certo que o desempenho de Portugal esteve longe de ser feliz, mas ter Ronaldo é estar sempre sujeito a vencer qualquer jogo e em qualquer circunstância. Ronaldo é um dos melhores jogadores de sempre, um dos melhores finalizadores de sempre, um dos melhores cabeceadores de sempre e, a partir de agora, o melhor marcador da história do futebol de selecções, com 111 golos.

João Mário disse após a partida que “ele acredita e é decisivo”. “Ele” é Ronaldo e a definição de João Mário é, 111 golos depois, do mais preciso que poderia ser. Portugal esteve em risco de perder, mas, com Ronaldo, está sempre em risco de ganhar.

Primeira parte negra

No Algarve, a primeira parte de Portugal foi bastante cinzenta, havendo até equilíbrio no número de remates (sete portugueses contra seis irlandeses). Fernando Santos trouxe um 4x3x3 aparentemente ofensivo, com um meio-campo com Palhinha, Bernardo e Bruno Fernandes, enquanto a equipa da Irlanda apostou num 5x4x1 aparentemente defensivo, mas com nuances curiosas.

A equipa tinha um bloco defensivo baixo, mas não abdicava de ter quatro e até cinco jogadores na pressão à primeira fase de construção portuguesa. Se o bloco defensivo era baixo e a primeira linha de pressão era alta, então haveria sempre espaço para explorar no meio – algo que Portugal fez pouco, procurando raras vezes activar os médios e os avançados entrelinhas na zona central nos momentos em que a Irlanda pressionava alto. Faltaram, neste capítulo, mais capacidade de por Bernardo e Bruno na “batuta” e maior predisposição dos laterais para darem soluções em construção.

Apesar disso, Portugal até dispôs da primeira grande oportunidade de golo, já que a Irlanda, além de surpreender com a pressão alta, surpreendia também pela construção desde trás. Mas sabe-se que essa é uma via para a qual é preciso ter jogadores tecnicamente capazes no sector defensivo e um erro irlandês permitiu a Bruno Fernandes ganhar um penálti.

O VAR chamou o árbitro, por considerar que não havia penálti, mas o juiz Matej Jug decidiu manter o castigo máximo. Cristiano Ronaldo tinha o país à espera que ele se tornasse o melhor marcador de sempre das selecções nacionais, mas o avançado permitiu a defesa do guarda-redes adversário.

Perante este falhanço defensivo da Irlanda seria de esperar que Portugal visse onde estava o “ouro” e subisse rapidamente as linhas de pressão, apertando mais os centrais irlandeses. Tal não aconteceu e a pressão era suave e, sobretudo, algo anárquica – em bloco teria sido, por certo, mais profícua.

Portugal teve um par de remates perigosos, sobretudo de Diogo Jota (27’ e 45+2’), mas foi a Irlanda quem marcou. Aos 45’, um canto permitiu a Egan cabecear entre Ronaldo e Cancelo, que dividem culpas na marcação deficiente ao jogador irlandês.

Segunda parte cinzenta

Perante a incapacidade de ter presença na área e jogo interior, Fernando Santos lançou André Silva – jogador que trabalha muito entrelinhas e que até permitiria também a Ronaldo jogar mais solto e oferecer mais soluções, sem deixar de ser a referência de área.

A entrada do avançado deu mais jogo a Ronaldo, que começou a pedir a bola no corredor esquerdo, mas Portugal, descontando um remate em arco de Bruno Fernandes, não se tornou necessariamente mais perigoso, dado que os centrais irlandeses poderiam jogar “de cadeira” só com André Silva pela frente.

Já com Nuno Mendes em campo houve maior dinâmica e velocidade no corredor esquerdo, mas Portugal abusou dos cruzamentos contra uma equipa irlandesa que podia defender de frente os lances aéreos com adversários portugueses pouco capazes nessa vertente.

Depois de cruzamentos sem nexo, cantos desperdiçados e remates fracos, a grande oportunidade chegou aos 75’, quando Bernardo tirou um irlandês do caminho e, em excelente posição, dentro da área, atirou por cima.

Com o passar dos minutos a selecção irlandesa baixou ainda mais o bloco e foi colocando quase toda a equipa a jogar em 30 metros de terreno – a fase de risco na pressão já lá ia e Portugal deixou-a escapar enquanto foi tempo.

Com vários jogadores vestidos de branco dentro da própria área, Portugal poderia rematar de longe – o que fez sem sucesso – ou tentar alargar o jogo e obrigar o bloco irlandês a “esticar” – o que pouco tentou fazer, abusando dos cruzamentos sem nexo. A única vez em que aconteceu permitiu a Bernardo assistir João Mário, que não conseguiu finalizar a preceito.

Quando o jogo português parecia mais atabalhoado do que engenhoso, uma jogada de Gonçalo Guedes encontrou Ronaldo livre para cabecear para o empate, aos 89’. Mas ainda não era tudo. Nos últimos segundos do jogo, João Mário foi a tempo de encontrar Ronaldo. E Ronaldo, como já tinha feito 110 vezes pela selecção, encontrou o golo. Foi a 111.ª.

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