Que quer dizer “bai-m’à loja e traz-me o troco”? O Dicionário de Calão do Norte explica

O livro, que já se encontra à venda, reúne palavras e expressões do distrito do Porto, Minho e Trás-os-Montes e Alto Douro. O Dicionário de Calão do Norte é apresentado neste sábado na Feira do Livro do Porto, nos jardins do Palácio de Cristal.

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Pedro Fazeres

Algumas, muitas mesmo, galgaram fronteiras regionais e usam-se de Norte a Sul do país: “chamar o gregório” é algo - infelizmente - abundantemente conhecido. Outras nem por isso, estão mais circunscritas a uma região. Em comum tem a origem nortenha. O Dicionário de Calão do Norte é o primeiro livro publicado em Portugal que tem cerca de 12 mil significados provenientes das regiões de Porto - Douro Litoral, Minho e Trás-os-Montes e Alto Douro. A partir desta semana, a obra, editada por “Ideias de Ler” (Porto Editora), está disponível em todas as livrarias do país, pelo valor de 13,95 euros.

O autor é o professor e escritor João Carlos Brito, natural do Porto que cresceu “por estradas do Norte”. A investigação sobre este assunto – o processo de “escavar palavras”, como gosta de lhe chamar – começou há 35 anos. Hoje, o escritor tem 40 livros publicados e 19 são sobre este tema – sendo 12 obras específicas ao Porto e região do Norte.

Para o escritor, o Norte tem um vocabulário heterogéneo e foi isso que suscitou o seu interesse em fazer uma recolha de expressões e palavras desta região: “os nortenhos falavam português antes sequer de existir Portugal, estamos a falar de 150 anos de avanço no que diz respeito à língua”, diz. Segundo o portuense, o calão nasceu nas zonas portuárias e foi-se propagando entre os falantes.

Numa tentativa de não deixar cair o calão nortenho em desuso, o objectivo do livro é tentar perceber como nascem as palavras e os seus segundos significados, ao mesmo tempo que se adiciona uma camada de sentido de humor: “queremos passar algum conhecimento com um sorriso nos lábios do leitor”, explica.

No processo de selecção de palavras foi feita uma triagem das entradas, de forma que o conteúdo fosse “interessante, prático e tivesse rigor”, comenta João Carlos Brito. Assim, pode-se encontrar expressões que se popularizam pelo país fora como: “andar de cu tremido” (andar de carro), “briol” (frio), “dar de frosques” (fugir), “chamar o gregório” (vomitar), “nicles batatoides” (negação absoluta), “pagode” (festa; alegria), “roçar o cu pelas esquinas” (não fazer nada) ou “sopas de cavalo cansado” (sopa de vinho tinto com açúcar).

Escolher uma das expressões favoritas do livro é tarefa impossível para o autor. “É como pedir-me para escolher o filho preferido”, comenta. Ainda assim, “falar para a central” (falar sem ser ouvido) e “bai‑m’à loja e traz ‑me o troco” (expressão de descrença ou desdém) são as frases clássicas que surgem logo na cabeça do autor.

O livro já se encontra em circulação, mas é no sábado, dia quatro de Setembro, às 16h00, que a obra vai ser apresentada na Feira do Livro do Porto, nos jardins do Palácio de Cristal. Relativamente às expectativas de adesão do público, o escritor espera que este seja “um livro que dignifique o sentimento dos nortenhos, onde recordem as palavras e expressões com alguma nostalgia”.

Texto editado por Ana Fernandes

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