Os Jogos Olímpicos deveriam fazer-nos repensar a Educação Física

Portugal saiu de Tóquio com a sua melhor participação de sempre em Jogos Olímpicos. No entanto, continuamos a ser das piores nações europeias no medalheiro. Num país onde a Educação Física não apaixona os jovens, não é possível nascerem campeões.

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Anna Costa

Corria o século XVI e já Luís de Camões criticava o desprezo dos portugueses pela cultura. Volvidos mais de 500 anos, pouco mudou e cada vez mais parece ser algo entranhado na génese portuguesa. Esta realidade é transversal ao desporto, que em Portugal, à excepção do futebol, pouco é promovido.

A Educação Física é prova disso. Com uma carga horária bastante reduzida no primeiro ciclo, vista por muitos professores nos outros ciclos escolares como uma disciplina de segunda e durante alguns anos sem qualquer peso para média final do secundário, não é possível incutir nos jovens a paixão pelo desporto.

Se tivermos em conta Os Maias, de Eça de Queirós, a educação portuguesa parece ter sempre dado primazia à memorização de conceitos, em desfavorecimento das actividades ao ar livre e do contacto com a natureza. Não deixa de ser irónico que, tal como Os Lusíadas, esta obra estudada nas aulas de Português tenha uma mensagem bastante actual.

Hoje o nosso sistema educativo funciona de maneira semelhante. Por falta de vontade política, ou por falta de coragem, também não parece não se aproximar uma reforma que urge acontecer. Deve-se fazer com que a Educação Física consiga transmitir uma cultura desportiva aos alunos e não afastá-los do desporto, como muitas vezes acontece.

Actualmente, a disciplina não passa de um amálgama de desportos leccionados sem qualquer critério. Não existe, sequer, a preocupação de incluir todos os alunos nas aulas. Grande parte das vezes a Educação Física serve mais como um palco para situações de bullying, em que os jovens se vêem arredados de encontrar o seu lugar no desporto.

Ora isto é grave e deve ser corrigido imediatamente. Para isso é necessário dar mais liberdade aos alunos, indo ao encontro dos interesses de cada um dos nossos jovens e preparar a sua profissionalização.

Deste modo, é importante que desde tenra idade os alunos sejam motivados a praticar desporto e aprendam os seus valores. A Educação Física até ao 9.º ano deveria dar a conhecer as várias modalidades olímpicas de Verão e Inverno, assim como avaliar as habilidades dos alunos e trabalhá-las com o Desporto Escolar.

No ensino secundário, a estratégia deve passar pela profissionalização dos jovens numa modalidade específica escolhida por eles. Assim, ao praticarem aquilo de que gostam vão gozar das diversas vantagens que o desporto traz.

A aposta na personalização da Educação Física promove também a inclusão dos jovens com deficiência, potencializando o desporto paralímpico português

Todavia, para que tal seja possível é necessário que haja um envolvimento de várias entidades, desde o Desporto Escolar até às autarquias, passando também pelos clubes federados. Todos devem fazer um esforço para que seja possível apoiar os alunos nas suas escolhas e permitir que estes tenham as condições necessárias para treinarem.

Reformar a Educação Física é crucial para o país. No entanto não se espera uma mudança de paradigma para breve. Enquanto não houver coragem para libertar a educação em Portugal, não nos resta outra opção senão juntarmo-nos a Camões e a Eça na espera da mudança.

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