Governo da Argélia corta relações diplomáticas com Marrocos

Desde 1988, quando as relações entre os dois países foram retomadas, que a Argélia e Marrocos não rompiam os laços. Rabat diz que é uma decisão “injustificada”, tomada a partir de “pretextos falaciosos”.

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O Presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, já tinha pedido uma revisão às relações dos dois países RAMZI BOUDINA/Reuters

O Governo da Argélia anunciou o corte das relações diplomáticas com Marrocos, marcando a crise mais grave entre os dois países desde 1994. Argel justificou a decisão com um conjunto de circunstâncias, entre as quais a falta de progressos na questão do Sara Ocidental e a acusação indirecta de Marrocos ser responsável pela onda de incêndios que vitimou pelo menos 90 argelinos.

“A Argélia decidiu romper as relações diplomáticas com Marrocos a partir de hoje” devido aos seus “actos hostis”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros argelino, Ramtane Lamamra. A ordem já vinha do Presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune​, que tinha pedido uma revisão das relações com o país vizinho devido à escalada da tensão nas últimas semanas, informa a agência APS.

A actual crise é considerada a mais grave desde 1994, quando um atentado em Marraquexe, em que as autoridades marroquinas viram a interferência dos serviços secretos argelinos, causou uma escalada de tensão que resultou no encerramento das fronteiras comuns. Mas os laços não eram quebrados desde a sua restauração em 1988, depois de um outro confronto.

A tensão entre os dois países vizinhos remonta ao final da colonização francesa, mas intensificou-se nos anos 1970 devido ao conflito no Sara Ocidental, que Marrocos reivindica como seu território, enquanto a Argélia é aliada do movimento independentista da Frente Polisário. E continua a pairar entre os países vizinhos. O próprio Lamamra fez referência à disputa como uma das razões que levou à ruptura das relações, aludindo ao controlo de Marrocos sobre o território.

A relação entre Argel e Rabat atingiu um novo ponto baixo na última quarta-feira, dia em que teve lugar o Conselho de Alta Segurança em Argel, presidido pelo chefe de Estado argelino. Um comunicado do gabinete da presidência deu conta da intenção de “intensificar a vigilância de segurança nas fronteiras ocidentais” devido aos “repetidos actos hostis de Marrocos contra a Argélia”.

Argel refere-se aos alegados actos cometidos durante as últimas semanas, com o suposto apoio de Rabat a dois partidos políticos classificados pelas autoridades argelinas como “organizações terroristas” desde Fevereiro – o MAK, que defende a independência da região argelina de Cabília; e Rachad, um partido islamita. A Argélia chegou a responsabilizar estes dois grupos, e indirectamente Marrocos, pela onda de incêndios que vitimou pelo menos 90 pessoas.

Argel ficou ainda indignado com uma investigação da imprensa internacional que revelou que os serviços secretos marroquinos utilizaram alegadamente o programa de espionagem Pegasus de uma empresa israelita para aceder aos telemóveis seis mil argelinos, incluindo figuras políticas e militares.

Marrocos, por sua vez, disse que o corte das relações é “injustificado”, mas esperado “face à lógica de escalada [de tensão] observada nas últimas semanas”, com o Governo de Rabat a tomar “nota da decisão unilateral das autoridades argelinas”. Negou, ainda, “os pretextos falaciosos, inclusivamente absurdos”, por trás da decisão de Argel.

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