Jazz na Figueira da Foz celebra em 2021 o cancioneiro português

Com três concertos no início de Setembro, o Figueira Jazz Fest aposta na proximidade ao cancioneiro português. No cartaz estão Bernardo Moreira Sexteto com Cristina Branco e Bernardo Couto, Paula Oliveira com Ricardo Ribeiro e Maria Mendes com o seu trio.

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Bernardo Moreira Sexteto actuará na Figueira com Cristina Branco e Bernardo Couto MÁRCIA LESSA

Em 2020 foi em Agosto, este ano é em Setembro. O Figueira Jazz Fest vai regressar com três concertos em dias consecutivos, de quinta 2 a sábado 4, com a proposta de unir o jazz feito em Portugal ao cancioneiro popular português. Abre com Bernardo Moreira Sexteto e o seu recém-lançado álbum Entre Paredes, com a cantora Cristina Branco e o guitarrista Bernardo Couto por convidados; depois com a cantora Paula Oliveira em quinteto, tendo por convidado Ricardo Ribeiro; e por fim com a cantora Maria Mendes e o seu trio. Os espectáculos terão por palco o Centro de Artes e Espectáculos (CAE) da Figueira da Foz, podendo realizar-se no exterior ou no interior, consoante as condições atmosféricas, e este ano terão entrada paga, ainda que a preço simbólico: 5 euros o bilhete, 10 pelos três dias.

Promovido pelo município da Figueira, a partir de uma ideia do cantor e actor Joaquim Lourenço, que continua envolvido na organização, o Figueira Jazz Fest teve uma primeira edição experimental em 2019. A edição seguinte, em plena pandemia e realizada ao longo do mês de Agosto de 2020, em quatro fins-de-semana, teve só músicos nacionais (Maria João com Maria Anadon, Nanã Sousa Dias, Mano a Mano ou Elas e o Jazz, entre outros) e a deste ano segue-lhe os passos, com a ideia de acrescentar algo aos projectos de cada formação. “Estamos a tentar fazer espectáculos inéditos, juntar neste festival gente que não é do jazz mas que vem para o jazz, e vice-versa. É este encontro que me parece interessante, pelo menos é a grande valência desta iniciativa”, diz Joaquim Lourenço.

Isso começa logo, acrescenta este organizador, no dia 2 (22h) com Entre Paredes, do Bernardo Moreira Sexteto, lançado em Julho. “Eu fiz este desafio ao Bernardo: porque não convidar uma cantora para cantar alguns textos para a música do Carlos Paredes? Porque houve autores que, a partir da música dele, escreveram textos. Sugeri a Cristina Branco e sugeri ainda que podia ser interessante ter um guitarrista, porque o homenageado era um guitarrista. E foi assim que se lhe juntou o Bernardo Couto, por sugestão do Bernardo.” O tema Verdes Anos, composto para o filme homónimo de Paulo Rocha, em 1963, teve uma letra escrita para o filme pelo recém-falecido Pedro Tamen (1934-2021) e esta será uma das que serão interpretadas no espectáculo. Cantada no filme por Teresa Paula Brito (e gravada por esta cinco anos mais tarde, num EP, em 1968), Verdes anos viria a ser depois cantado por Amália Rodrigues, por Mísia (que dedicou a Carlos Paredes um disco, Canto, de 2003, com letras de Vasco Graça Moura), Dulce Pontes, Teresa Salgueiro ou Mariana Abrunheiro, que também dedicou um disco inteiro ao mestre, Cantar Paredes (2015).

Dia 3 (22h), o palco é de Paula Oliveira, que convidou Ricardo Ribeiro. “A Paula Oliveira sempre teve o nosso cancioneiro nos seus discos [Lisboa Que Adormece, 2005, ou Fado Roubado, 2007, ambos com Bernardo Moreira]. E vai lançar por essa altura, será mais ou menos em Setembro, um disco de homenagem ao nosso Prémio Nobel, José Saramago. Na Figueira, ela vai cantar esses temas do cancioneiro nacional e também alguns temas do disco novo.” Quanto a Ricardo Ribeiro, Joaquim Lourenço sublinha a relevância da sua voz, a par da justeza do convite: “O Ricardo já é um homem que procura encontros entre músicas, não é só do fado, vai para a música árabe, faz pontes com muitos géneros.” Com Paula Oliveira (voz), além de Ricardo Ribeiro (voz), estarão Leo Tardin (piano), André Rosinha (contrabaixo), Bruno Pedroso (bateria) e João Moreira (trompete).

O encerramento, no dia 4 (22h), caberá a Maria Mendes. “É uma cantora do Porto, que começou a cantar jazz aqui e depois foi para a Holanda, onde toda a gente gostou muito dela (na Europa e nos Estados Unidos, onde o Quincy Jones disse que ela iria ter um futuro extraordinário). Em 2019 editou um disco, Close To Me, onde regressa às suas raízes portuguesas, com fados e músicas de raiz tradicional. É o exemplo de alguém que sai do país e regressa às origens, revisitando-as.” Com Maria Mendes (voz) estarão os músicos Cedric Hanriot (piano), Jasper Somsen (contrabaixo) e Mário Costa (bateria).

Carlos Monteiro, presidente da Câmara da Figueira da Foz, que promove e organiza o festival, considera-o “imperdível” e, acrescenta, “uma oportunidade de reforçar a oferta cultural diferenciada, não só para os amantes de jazz, mas para todos aqueles que apreciam bons momentos musicais e de grande qualidade”. Ainda mais em tempos de pandemia, conclui: “Numa altura em que os agentes culturais precisam do apoio de toda a sociedade civil, é para nós importante continuar a desenvolver iniciativas, devidamente seguras e adaptadas ao momento, que permitam continuar a levar a música e a cultura a todos.”

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