Cartas ao director

Hipocrisia

A palavra hipocrisia deriva do grego “hypokrisia,as”, significa criticar o outro e fazer exactamente o mesmo. Será inaugurado, neste mês de Agosto de 2021, entre a fronteira grega e turca um muro de aço com cinco metros de altura, com um sistema integrado de segurança, com câmaras de grande alcance, com óticas térmicas, radares, sensores e inúmeros drones. Sistema aprovado pelo governo grego e com o financiamento da UE (apesar de criticado por esta), a qual disponibiliza desde 2015 três mil milhões de euros para projectos de segurança fronteiriços. 

Enquanto isto, do outro lado do Atlântico, a recente administração Biden enfrenta uma crise fronteiriça a sul sem precedentes. Somando-se à já grave crise humanitária e de segurança (aumento do narcotráfico) segue-se agora na saúde pública um descontrole ainda maior de covid nos imigrantes ilegais que chegam diariamente a fronteira. A palavra para definir tudo isto é hipocrisia.

Fernando Ribeiro, S. João da Madeira  

Terceira dose da vacina contra a covid-19

Ao que consta, mais dia menos dia, os lares de idosos e professores terão uma terceira dose da vacinação contra a covid-19. Chega a parecer incrível, esta decisão, quando milhões ainda estão a aguardar pela primeira. Será mais uma preocupação para o vice-almirante, enquanto a Direcção-Geral de Saúde procura estudos americanos e uns relatórios da UE para dar consistência à decisão política, quando for tomada. Quando milhões de pessoas não tomaram ainda a primeira dose ou a segunda, começar a corrida à terceira dose é no mínimo um tremendo disparate - já bastou a novela sobre a vacinação dos jovens entre 12 e os 15.

Tomaz Albuquerque, Lisboa

Afeganistão, Iraque e Cuba

A saída das tropas norte-americanas do Afeganistão mostra que Joe Biden não é quem se pinta. O presidente norte-americano, o tal campeão da liberdade e da democracia, vai deixar a generalidade do povo afegão nas mãos dos terroristas islâmicos. O que será dos colaboracionistas? O que será das mulheres afegãs? Não é de admirar esta atitude. Estão por julgar os políticos criminosos que lançaram o Iraque no caos com a sinistra invasão da coligação apoiada pela NATO. Os iraquianos viviam muito melhor com Saddam Hussein do que actualmente. Como os portugueses estão em todo o lado, Durão Barroso fez parte da clique terrorista que mergulhou o Iraque no caos. Para quem considera Clinton, Obama e Biden exemplos puros de democratas, lembro que nenhum deles levantou o embargo a Cuba.

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

Fumar e acordo ortográfico

Na sua crónica no PÚBLICO de 11 de Agosto, Maria João Marques compara a provável polémica que venha a ser resultante da anunciada proibição de fumar nos bares e discotecas àquela que se suscita acerca daquela coisa ortográfica a que chamam acordo, antevendo que as pessoas se hão-de habituar à novidade.

Ora, esta forma de ver parece-me confundir duas realidades completamente diferentes, dado que o fumo nos espaços públicos invade e polui o ar que é de todos e é essencial à vida biológica; as normas ortográficas são uma criação, cuja evolução, até à tal coisa, ia tendencialmente no sentido de facilitar a grafia, não perdendo de vista o objectivo de assegurar o entendimento unívoco do sentido das palavras. Todavia, como se tem visto - e por eloquentes, remeto para os exemplos que o vosso jornalista Nuno Pacheco tem vindo a dar nas páginas do PÚBLICO - o propalado objectivo de uniformização transcontinental que estaria na base do nóvel normativo ortográfico revela-se uma fraude.

Além disso, a atitude dos poderes públicos que o pretendem impor como facto consumado, fugindo a debatê-lo e aliado a inaceitáveis e vergonhosas pressões no meio académico para esse efeito, levanta a suspeita séria de estarmos perante uma manifestação de força da classe política dirigente (que, como sabemos, perpassa todo o espectro partidário) para marcar na pedra a sua passagem no tempo - isto é, para novamente (depois dos bens nacionais no século XIX, da liberdade de empreender no século XX e, mais recentemente, do sector empresarial do Estado) se apropriar do que é de todos: agora, da própria língua em que nos pensamos.

 Sérgio Tovar de Carvalho, Lourinhã

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