Facebook fez mais de 9,5 milhões de dólares em publicidade a empresas de combustíveis fósseis

A informação faz parte do mais recente relatório da Influence Map, uma organização não-governamental que fornece dados e análises sobre como a economia e as finanças estão a afectar a crise climática.

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Parte dos anúncios sugeria que o uso de petróleo e gás está associado a uma melhor qualidade de vida Reuters/Todd Korol

O Facebook recebeu mais de 9,5 milhões de dólares (cerca de oito milhões de euros à taxa de câmbio actual) de empresas de combustíveis fósseis nos EUA, que compraram anúncios na rede social em 2020. Parte dos 25,147 anúncios — com 431 milhões de visualizações em 2020 — apresentavam o gás natural, que é um combustível fóssil, como uma opção verde, algo que contradiz a investigação realizada pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla inglesa), da ONU.

A informação faz parte do mais recente relatório da Influence Map, uma organização não-governamental que fornece dados e análises sobre como a economia e as finanças estão a afectar a crise climática. A empresa de gás natural Exxon e o Instituto de Petróleo Americano (API, na sigla inglesa) compraram 62% dos anúncios analisados pela equipa.

“Esta investigação demonstra como as redes sociais estão a ser utilizadas para influenciar o debate nas mudanças climáticas”, lê-se no relatório que critica o facto de o Facebook não incluir regras mais rígidas sobre o tipo de informação que pode constar em anúncios sobre o ambiente. 

Os investigadores encontraram exemplos de anúncios que sugerem que o uso de petróleo e gás está associado a uma melhor qualidade de vida. Mais de 6700 anúncios promoviam o gás natural como uma forma de energia verde. “As mensagens incluídas nestes anúncios não estão de acordo com a ciência das alterações climáticas”, alertam os investigadores no relatório. 

Contactado pelo PÚBLICO, um porta-voz daquela rede social nota que este tipo de anúncios “existem em muitas plataformas, incluindo a televisão” e que o Facebook oferece uma “camada de transparência extra” ao compilar os anúncios todos numa biblioteca online que qualquer pessoa pode consultar. “Rejeitamos anúncios quando um dos nossos parceiros independentes os classifica como falsos ou enganadores”, acrescenta o porta-voz. 

A equipa da Influence Map reconhece que os anúncios em causa não são um problema exclusivo do Facebook, mas discorda da ideia de que a plataforma tem um impacto semelhante ao da televisão. ​“O Facebook não é como outras formas de publicidade em massa porque é muito mais capaz de se dirigir a públicos específicos com mensagens específicas”, lê-se num email da organização em resposta a questões do PÚBLICO.

O negócio do Facebook é alimentado pelos dados que recolhe dos utilizadores. A rede social utiliza a informação das pessoas que usam os seus serviços gratuitamente (idade, localização, interesses, comentários, páginas visitadas) para ajudar as marcas que compram anúncios na plataforma a chegar a públicos específicos. 

“Ao menos o Facebook permite aos investigadores acompanhar a forma como o sector do petróleo e do gás está a utilizar a plataforma. Outros gigantes tecnológicos, como o Google, Twitter, entre outros, não o fazem”, admite, no entanto, Simon Culler, responsável pela comunicação da Influence Map.

A organização sublinha que a missão do relatório é alertar consumidores e reguladores para as novas estratégias das empresas de combustíveis fósseis. “O facto de o sector do petróleo e gás estar a utilizar esta ferramenta [redes sociais] indica que não desistiu da sua longa história de tentar encontrar um futuro para os combustíveis fósseis, e com isso, obstruir as acções necessárias [sobre as mudanças climáticas]”, conclui o email enviado ao PÚBLICO.

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