Nova “lista verde” mostra a recuperação (ou não) das espécies

O novo Estatuto Verde das Espécies é uma ferramenta que permite monitorizar a recuperação das espécies e melhorar a compreensão do estado da vida selvagem no mundo.

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A aranha Turinyphia cavernicola, que vive nos Açores Pedro Cardoso/AzoresBioPortal
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Escaravelho da espécie Pseudanchomenus aptinoides Enésima Pereira/AzoresBioPortal
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Escaravelho da espécie Trechus terrabravensis Enésima Pereira/AzoresBioPortal
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Escaravelho da espécie Tarphius floresensis Erno-Endre Gergely/AzoresBioPortal

Chama-se “Estatuto Verde das Espécies” e é uma nova lista da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). O seu objectivo é indicar até que ponto as espécies estão ameaçadas ou recuperadas em comparação com os níveis históricos da sua população. Na última edição da revista Conservation Biology foi divulgada a avaliação preliminar a 181 espécies, entre elas algumas presentes em Portugal. Dessas mais de 180 espécies, cerca de 60% foram consideradas “amplamente” ou “criticamente depauperadas”.

O Estatuto Verde das Espécies é uma nova parte da Lista Vermelha da IUCN para avaliar o progresso da recuperação das espécies. Tudo começou em 2012 quando a IUCN decidiu criar “listas verdes” de espécies, ecossistemas e áreas protegidas. A lista verde das espécies acabou então por se designar “Estatuto Verde das Espécies”.

Este estatuto classifica as espécies em categorias, indicando se a espécie está mais próxima da sobreexploração ou da recuperação em comparação com os níveis históricos da sua população. “Esta lista pretende medir o quão perto uma espécie está de ser totalmente ecologicamente funcional em toda a sua área de distribuição, e quanto ela recuperou graças à acção de conservação realizada”, afirma ao PÚBLICO Paulo Borges, do Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente Universidade dos Açores e um dos autores do artigo.

O investigador assinala que cada avaliação deste estatuto mede o impacto da conservação do passado na espécie, a sua dependência em acções de conservação de apoio contínuo, quanto pode ganhar com uma acção de conservação nos próximos dez anos e o seu potencial para recuperar no próximo século.

As categorias para os estatutos são as seguintes: “totalmente recuperada”, “ligeiramente depauperada”, “moderadamente depauperada”, “amplamente depauperada”, “criticamente depauperada”, “extinta na natureza”, e “indeterminada”.

“A Lista Vermelha da IUCN mostra-nos quão perto uma espécie está da extinção, mas não está dirigida para nos fazer um retrato completo da sua situação e funcionamento dentro do ecossistema”, afirma em comunicado Molly Grace, co-responsável do Grupo de Trabalho do Estatuto Verde das Espécies. “Com o Estatuto Verde das Espécies temos uma ferramenta complementar que nos permite monitorizar a recuperação das espécies e melhorar drasticamente a nossa compreensão do estado da vida selvagem no mundo.” Já Paulo Borges acrescenta que a “Lista Verde das Espécies da IUCN fornece evidências de que a conservação funciona, dando motivo para optimismo e ímpeto para uma acção mais forte”.

As espécies presentes em Portugal

Agora, pela primeira, foram apresentadas avaliações para o Estatuto Verde das Espécies. Das 181 espécies analisadas, a cerca de 60% foi dado o estatuto de “amplamente depauperada” ou “criticamente depauperada”. Este trabalho foi feito por mais de 200 investigadores de 171 instituições.

Um dos exemplos no comunicado foi para o condor-da-califórnia (da espécie Gymnogyps californianus). Esta ave está classificada como “criticamente em perigo” na Lista Vermelha, mas como “amplamente depauperada” no Estatuto Verde, o que quer dizer que acções de conservação rigorosas poderão evitar a sua extinção. “A avaliação do Estatuto Verde concluiu que um contínuo apoio poderá permitir uma recuperação significativa no próximo século”, lê-se no comunicado. Prevê-se que a recuperação possa ir até 75% do seu estado totalmente recuperado.

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Condor-da-califórnia Eric Kolb/CC

Também foram avaliadas espécies presentes em Portugal, tais como a lontra-europeia (Lutra lutra) com o estatuto “indeterminado”; a aranha da espécie Turinyphia cavernicola que vive nos Açores e foi classificada como “criticamente depauperada”; a libélula-de-nervuras-vermelhas (Sympetrum fonscolombii) com o estatuto “totalmente recuperada”; e o peixe endémico da Península Ibérica Luciobarbus comizo com o estatuto “largamente depauperado”.

Foram ainda analisadas três espécies de escaravelhos endémicas dos Açores e que estão a ser alvo de recuperação através do projecto Life Beetles: a Tarphius floresensis (classificada como “amplamente depauperada”); a Pseudanchomenus aptinoides (com o estatuto “indeterminado”); e a Trechus terrabravensis (“indeterminado”). Todas elas estão classificadas como “ameaçadas” ou “criticamente ameaçadas” pela Lista Vermelha da IUCN. Já a águia Buteo buteo rothschildi, vulgarmente conhecida por milhafre e que vive nos Açores, foi classificada como “ligeiramente depauperada”. Na Lista Vermelha tem o estatuto “pouco preocupante”.

Quanto ao que representam as classificações da nova lista verde, Paulo Borges dá-nos um exemplo com a Turinyphia cavernicola, que foi agora avaliada como “criticamente depauperada”. “Trata-se de uma situação em que toda a sua área de distribuição e da sua população se encontra por recuperar, e não se sabe quando vai ser possível realizar tal recuperação”, indica o investigador que, além de ter participado em reuniões de trabalho e discussão, avaliou as três espécies de escaravelhos referidas.

Também assinam o artigo na Conservation Biology os portugueses Luís Barcelos e João Pedro Barreiros, ambos da Universidade dos Açores. “O mais importante deste artigo e da lista verde é o seu funcionamento e agora esta vasta equipa vai avaliar mais espécies no âmbito da IUCN”, sublinha João Pedro Barreiros.

Os próximos passos do Estatuto Verde das Espécies serão já em Setembro de 2021: “O site da Lista Vermelha vai actualizar o perfil das espécies para mostrar a categoria de recuperação do Estatuto Verde ao lado do já conhecido risco de extinção”, revela ao PÚBLICO Molly Grace. “O nosso objectivo é avaliar o maior número possível de espécies para que se possa ter uma imagem clara do estatuto de recuperação das espécies pelo mundo, bem como do impacto da conservação que estão a ter.”

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