Redacção do JN vai apresentar queixa à ERC após contratação de Alexandra Borges

Conselho de Redacção do Jornal de Notícias alega que directora não foi informada nem consultada sobre contratação para o grupo Global Media. Equipa de investigação exterior às publicações coloca em causa “o princípio da autonomia das redacções e dos jornalistas”, alegam profissionais.

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Jornal de Notícias JOSE SARMENTO MATOS

O Conselho de Redacção (CR) do Jornal de Notícias (JN) contestou, esta quarta-feira, a contratação da jornalista Alexandra Borges para o cargo de “Directora de Grande Reportagem e Investigação do Grupo Global Media”. De acordo com o comunicado deste órgão, a que o PÚBLICO teve acesso, será feita uma participação junto da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) sobre este tema, com o CR a considerar que a formação de uma equipa de investigação exterior às publicações do grupo pode representar uma quebra da “disciplina editorial de cada um dos órgãos de informação”.

“A criação da figura de uma directora porventura com pretensos poderes para fazer inserir trabalhos nas diversas publicações, portanto com ingerência directa nas competências dos directores, chefes de redacção e editores de área editorial (secção), atinge de forma inapelável o princípio da autonomia das redacções e dos jornalistas, os quais só devem obediência aos respectivos superiores hierárquicos”, pode ler-se no documento.

O CR garante também que não existiu qualquer aviso ou consulta desta contratação junto da directora do JN, Inês Cardoso, com o órgão que representa os jornalistas a considerar que esta posição oferecida à jornalista – criada, ao que é possível perceber, especificamente para acomodar esta equipa de investigação – “é absolutamente estranha à orgânica legalmente prevista para as empresas jornalísticas e representa uma violação do princípio da autonomia dos órgãos de informação e respectivas redacções”.

“Acresce que, na eventualidade de responsabilização civil e criminal por trabalhos publicados no jornal por profissionais estranhos à sua redacção, a directora não deixará de ser demandada, sem que tenha tido qualquer papel na orientação e na supervisão (directas ou delegadas) de tais trabalhos”, afirma o CR.

Ainda não foi possível ao PÚBLICO obter uma reacção oficial do grupo Global Media, detentor de publicações como o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias, sobre este comunicado.

Além das questões invocadas com a integração da equipa de investigação liderada pela jornalista Alexandra Borges no grupo Global Media, o CR relembra “os sérios constrangimentos e problemas graves” que atingem a redacção do Jornal de Notícias, acusando a administração de “pressões” para a “redução de salários e mesmo rescisões de contratos de trabalho”.

Na manhã desta quarta-feira, Marco Galinha, presidente da Administração da Global Media, elogiou a contratação nas redes sociais, dizendo que o “jornalismo independente, escrutinador e de qualidade” e “a aposta em conteúdos digitais” são as estratégias seguidas pelo grupo. 

Alexandra Borges foi jornalista da TVI durante duas décadas, tendo, inclusivamente, dirigido um programa de investigação com o seu nome. 

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