Para pintar um quadro para a Igreja de São Francisco, em Braga, pede-se apenas 50 cêntimos... a cinco mil pessoas

O grupo “Amigos do Convento” lançou uma iniciativa para oferecer uma pintura de São Francisco de Assis à Paróquia de São Jerónimo de Real. Serão precisos cinco mil donativos para se atingir o valor da obra, orçada em 2.500 euros.

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Hugo Delgado/Amigos do Convento

A Igreja de São Francisco, em Braga, guarda uma boa memória de Pedro Campos: foi ali que se casou. Esse é um dos motivos que o levam, “no caminho para o trabalho”, a fazer uma paragem naquele lugar para a contemplar, sem pressas. Mas os olhos podem desviar-se da igreja para vislumbrar o Mausoléu de São Frutuoso, classificado como Monumento Nacional em 1944, e ainda o Convento de São Francisco de Real­ ­— nome da terra que alberga o conjunto monástico, parte de uma união de freguesias que também integra Dume e Semelhe.

Agora, o bracarense quer que outras pessoas “criem memórias” no mesmo local, ao mesmo tempo que se “lançam raízes para o futuro”. Daí que, “há cerca de dois anos”, tenha decidido criar o “Amigos do Convento”, um projecto que tem no topo da sua agenda a “salvaguarda, valorização, dinamização, divulgação e promoção” do conjunto monástico de Real. Para marcar o “arranque das actividades” efectivo do grupo, decidiu-se que se iria oferecer uma obra de arte à Paróquia de São Jerónimo de Real. Em comunicado, o grupo especifica o que pretende adquirir com a iniciativa “Pintar Francisco”: “uma pintura da figura de São Francisco de Assis, em óleo sobre tela (...), a ser executada pelo artista português Rúben Ferreira”, que actualmente vive em Londres.

Olhando para o quadro “como símbolo de esforço da comunidade”, os “Amigos do Convento” precisam de 5 mil donativos para perfazer a quantia de 2.500 euros, que é em quanto está orçada a pintura. Contas feitas, isto significa que cada pessoa poderá contribuir com 50 cêntimos — “e não se aceitará mais do que isso”, frisa Pedro Campos. Não se quer que a oferenda “tenha a marca especial de ninguém, mas sim a marca de todos”. O grupo já reuniu mais de 600 donativos, mas o arranque da campanha de angariação de fundos está marcado para 4 de Outubro, dia de São Francisco de Assis. Por agora, decorre uma “pré-campanha”. 

O objectivo é que a obra fique exposta “de modo permanente” na igreja paroquial, que em tempos pertenceu ao convento. “Isto não partiu da necessidade da igreja, foi da nossa parte. Queremos envolver a comunidade numa coisa que seja marcante e que não se esgote nela própria, sendo significativa para a própria freguesia e para o conjunto monástico”, frisa. 

Não há património sem a comunidade

Pedro Campos considera o projecto “inovador” do ponto de vista “da democratização do acesso à cultura, numa lógica de intervenção” — é que “património sem participação da comunidade não é património”, defende. “Como diz Saramago, ‘sem memória não existimos’. Daqui a 200 ou 300 anos, alguém poderá olhar para a iniciativa e pensar que uns fulanos se lembraram de fazer isto, envolvendo milhares de pessoas”, perspectiva o fundador dos “Amigos do Convento”.

O sentido colaborativo pauta, desde o início, o grupo, como explicou o bracarense ao PÚBLICO em Março último: “O que nos importa é o resultado dos nossos esforços enquanto grupo e não se foi este ou aquele que fez alguma coisa ou se é esta ou aquela que lidera.” A participação cívica alia-se às entidades que estão a estudar a reabilitação do convento — a Câmara Municipal de Braga, a Universidade do Minho, a Direcção Regional de Cultura do Norte e a paróquia local. Em Setembro de 2019, uma candidatura ao Norte 2020 foi oficializada pela autarquia, “proprietária do espaço e promotora da obra”, e pela universidade, que terá a seu cargo a gestão do convento. Para já, as duas entidades encontram-se “na fase de análises das propostas do concurso público da empreitada”, que foi aprovado em Setembro de 2020, esclarece a Câmara Municipal de Braga.

De acordo com a informação divulgada pelo município na altura em que a candidatura para a conservação, valorização e promoção do Convento de São Francisco foi aprovada pelo Programa Operacional Regional do Norte, a intervenção contará com um financiamento de 850 mil euros por parte do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).

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