Bispo de Pemba pede às forças estrangeiras respeito pelos direitos humanos

Líder católico referia-se ao contingente armado proveniente do Ruanda que está há duas semanas em Cabo Delgado para apoiar o combate contra os extremistas do Daesh.

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Militares ruandeses antes de partirem para Moçambique JEAN BIZIMANA / Reuters

O bispo António Juliasse Sandramo, administrador da diocese de Pemba, capital de Cabo Delgado, norte de Moçambique, pediu respeito pelos direitos humanos às tropas estrangeiras destacadas na província, alertando para o risco de agravamento da violência.

“Toda a acção que deve ser feita [pelas forças militares estrangeiras] é no sentido de restituir a paz e nada mais do que isso e deve ser feito no respeito à vida da pessoa humana”, afirmou Sandramo, em declarações à Lusa esta sexta-feira.

O bispo católico defendeu que a intervenção militar estrangeira não deve resultar na perpetuação da violência e de abusos contra a população.

“Que a violência não continue e que tudo isso não provoque mortes de pessoas humanas”, sublinhou.

O administrador da diocese de Pemba enfatizou que a presença de militares estrangeiros abre um novo ciclo na guerra contra grupos armados, alertando para a imprevisibilidade do desfecho.

“A nossa província de Cabo Delgado entrou para um novo ciclo em relação a esta violência que vivemos, que é o ciclo que foi inaugurado com a entrada de forças estrangeiras para apoiar as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique no enfrentamento desta situação”, destacou António Juliasse Sandramo. “É um novo ciclo em que nós só estamos a ver o começo, mas não sabemos qual vai ser o curso e nem sequer também o fim”, referiu.

A Igreja Católica, continuou, vai acompanhar a evolução da situação, com confiança e oração a Deus, para o fim do conflito.

Um contingente de mil militares e polícias do Ruanda encontra-se em Cabo Delgado há duas semanas para o combate aos grupos armados que protagonizam ataques na província, no quadro de um acordo bilateral entre o Governo moçambicano e as autoridades de Kigali.

No âmbito de um mandato outorgado pelos chefes de Estado e de Governo da SADC, a organização regional vai destacar para Moçambique um contingente militar para o combate à insurgência, descrita pelo Governo moçambicano e entidades internacionais como “terrorismo”.

Não é publicamente conhecido o número de militares que a organização vai enviar para Moçambique, mas peritos militares já tinham avançado que a missão deve ser composta por cerca de três mil homens.

Grupos de jihadistas armados aterrorizam a província de Cabo Delgado desde 2017. Há mais de 2.800 mortes segundo o projecto de registo de conflitos ACLED e 732 mil deslocados de acordo com as Nações Unidas.

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