Selecione a opção correta. E quando há mais que uma?

No exame de História A, realizado na semana passada, há duas opções de resposta a uma mesma pergunta que devem ser consideradas corretas. Esta é uma situação grave e que precisa de rápidos e claros esclarecimentos por parte do Iave, pois muitos alunos estão em vias de ser ainda mais prejudicados e perder injustamente 14 pontos.

”Selecione a opção correta” é a instrução que os alunos recebem quando, num exame nacional, têm de responder a uma pergunta de escolha múltipla. Esta tipologia de questões tem vindo a aumentar nos exames, nomeadamente nos de História A.

Todas partem ou têm por base a análise de um documento ou de uma fonte histórica, pelo que não são questões que mobilizam apenas a memória, mas exigem também a interpretação da informação e a sua relação com os conteúdos estudados. No contexto das provas finais do ensino secundário, surgiram, pela primeira vez, em 2014, mas têm sofrido alterações ao longo do tempo, assim como a cotação que lhes é atribuída. Começaram por ser 4 questões a valer 5 pontos cada, ou seja, totalizavam 20 pontos em 200. No exame de História A deste ano, as 5 perguntas de escolha múltipla, todas de resposta obrigatória, foram cotadas para 14 pontos cada, totalizando 70 pontos em 200. Como podemos constatar, o seu valor mais do que triplicou, sem que se encontre uma explicação plausível, sobretudo quando as comparamos com outro tipo de questões, de maior complexidade, que requerem a composição de um texto articulado e fundamentado e que ficaram ou pelos 18 ou pelos 20 pontos.

Mas este problema do desequilíbrio do valor das questões vem desde 2018, sem que, até ao momento, o Iave tenha esclarecido os professores das razões e da validade destas mudanças. Há estudos que demonstram ganhos na objetividade, fiabilidade e rapidez de correção, mas perdas importantes na recolha de informação diagnóstica e na avaliação de processos complexos de pensamento, a par das ambiguidades na construção das questões, “pois um item que pareça claro para quem constrói o teste pode confundir quem tem que o resolver” (Domingos Fernandes, Avaliação das Aprendizagens: uma agenda, muitos desafios, Texto Editora, 2004).

De qualquer forma, as perguntas de escolha múltipla podem apresentar um menor ou um maior grau de dificuldade, como tem vindo a acontecer nos exames dos últimos anos. Ora temos as muito simples, ora encontramos outras mais difíceis, o que põe desde logo em causa a mesma cotação atribuída a todas.

No exame de História A, realizado na semana passada, houve alunos que vieram a público queixar-se deste tipo de questões, pelo facto de apresentarem opções de resposta muito semelhantes, o que acabou por confundi-los. Analisar e interpretar, com muita atenção, o documento, que serve de suporte ao apuramento da opção correta, são competências específicas da disciplina, pelo que os alunos, de um modo geral, têm de ser capazes, como expõe a Informação-prova, de fazer a “identificação da informação expressa nos documentos apresentados” e a “mobilização de conhecimentos de realidades históricas estudadas para analisar documentos”.

Por conseguinte, é isto que se exige no Grupo III, na questão 5, versão 1 (EX-HistA623-F1-2021-V1_net.pdf (iave.pt)), como aqui se pode ver.

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Feitas as leitura, análise, interpretação e mobilização de conhecimentos, há que selecionar a opção correta. Se houve alunos que selecionaram a opção A, pelo facto de o encerramento do clube noturno constituir uma forma de reprimir as liberdades individuais a quem lá ia, a seleção de outros incidiu na opção D, pelo facto de os clubes noturnos daquele tempo, independentemente de quem os frequentasse, serem espaços de realização e divulgação de atividades culturais (música, literatura, artes plásticas…). E, por isso, o seu encerramento também constitui um testemunho do controlo e da censura que o poder político, neste caso o nazismo, exercia sobre a produção cultural e os seus canais de promoção.

Ou seja, há duas opções de resposta que devem ser consideradas corretas, o que torna a pergunta inválida face aos critérios de correção apresentados no dia 7 de julho (EX-HistA623-F1-2021-CC-VT_net.pdf (iave.pt)). Se dúvidas houver, basta uma rápida pesquisa na internet para ficarmos a saber que o berlinense Eldorado era um espaço cultural. Aliás, a página da Internet, da qual o Iave extraiu a fotografia, apresenta um texto esclarecedor, de que destaco a seguinte passagem: “Until its closure shortlhy after the Nazis’ rise to power in 1933, the Eldorado had been a popular gathering place for celebreties, artists, and tourists. Although some Germans valued the Eldorado Club as a place for freedom of expression and cultural enrichment, others saw it as a symbol of cultural decline and decadence of Weimar Germany.”

Num exame nacional, com a importância que todos sabemos que tem, nem um único aluno pode ser colocado perante este dilema, que lhe consome a tranquilidade e o tempo necessários à resolução da prova. Esta é uma situação grave e que precisa de rápidos e claros esclarecimentos por parte do Iave, pois muitos alunos estão em vias de ser ainda mais prejudicados e perder injustamente 14 pontos.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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