Amantes das coisas do mundo

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Daniel Rocha

Há coisas de que deixamos de gostar ou, simplesmente, esquecemo-las. Como se tivessem feito parte de outra vida, de um ser diferente, ao ponto de nos perguntamos: fui, mesmo, aquele? Dependendo das circunstâncias, a resposta é afirmativa. Por exemplo, os desenhos animados continuam à solta, a dançar pela sala. Não da mesma maneira, é certo. O ângulo de visão raramente os apanha, pelo que sobretudo é ouvido que os vê. Escuta-se o que dizem as personagens, apanha-se, aqui e ali, uma história, pensa-se nas dobragens. O mundo ali representado (com os seus valores e ideologia) já pouco terá a ver com o de Hannah-Barbera ou o dos Looney Tunes, mas esse assunto daria um texto maior. O que ressalta, para o espaço de esta crónica, é a música. Os genéricos e os créditos de O Mundo de Craig, o Incrível Mundo de Gumball, Nós, os Ursos ou Titio Avô — séries do Cartoon Network não existiriam sem as mutações que o indie-rock sofreu desde 2000. Melodias de folktronica, ritmos de pop-punk, acordes plácidos e coloridos, riffs cobertos de algodão doce explodem e escorrem sobre as animações. Momentos há que se teme a entrada de um Sufjan Stevens, mas a música resiste à assinatura. Está lá para cumprir uma função e, no entanto, nos casos mencionados, oferece momentos de êxtase tão intenso quanto pueril. Portanto, mercantilizada, abonecada (até infantilizada), a música indie não morreu. Lampeja nos desenhos animados das crianças.

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