Ex-chefe da BBC arrepende-se da oportunidade que deu a Martin Bashir depois da entrevista a Diana

Tony Hall era director de informação da BBC na altura em que a emissora percebeu os erros no processo da entrevista a Diana, em 1995. Hoje, admite ter “errado” ao dar uma segunda oportunidade ao jornalista Martin Bashir.

Foto
Reuters/PETER NICHOLLS

O processo sobre as “falhas claras”, identificadas pelo juiz jubilado John Anthony Dyson no caso da entrevista à princesa Diana, está longe de ter um fim à vista, estando a decorrer uma investigação por parte da comissão da Câmara dos Comuns para o Digital, a Cultura, os Media e o Desporto (DCMS, na sigla original), na qual foi agora ouvido o director de informação da BBC na época, Tony Hall. Para este responsável, que acabou por assumir o cargo de director-geral entre 2013 e 2020, a decisão de, na altura, não despedir Martin Bashir foi “errada”.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O processo sobre as “falhas claras”, identificadas pelo juiz jubilado John Anthony Dyson no caso da entrevista à princesa Diana, está longe de ter um fim à vista, estando a decorrer uma investigação por parte da comissão da Câmara dos Comuns para o Digital, a Cultura, os Media e o Desporto (DCMS, na sigla original), na qual foi agora ouvido o director de informação da BBC na época, Tony Hall. Para este responsável, que acabou por assumir o cargo de director-geral entre 2013 e 2020, a decisão de, na altura, não despedir Martin Bashir foi “errada”.

Segundo Tony Hall, o comportamento de Martin Bashir no período que antecedeu a conversa com a princesa foi alvo de uma investigação, tendo o próprio averiguado a falsificação de documentos bancários por parte de Bashir para determinar de que forma o repórter os teria usado. No entanto, depois de o jornalista se ter manifestado arrependido, a direcção da emissora decidiu dar-lhe uma segunda oportunidade: “Confiámos nele e claramente não o devíamos ter feito”, disse Hall aos deputados, citado pela BBC.

No entanto, o presidente da comissão, Julian Knight, não se compadeceu com as justificações, declarando ter existido “um fracasso moral”, sobretudo depois de se saber que Matt Wiessler, o designer gráfico que fez soar o alarme sobre Bashir, foi parar à lista negra da BBC — o profissional, que viu a sua carreira arruinada, poderá vir a ser indemnizado em um milhão de libras (1,16 milhões de euros). Já sobre o repórter que entrevistou Diana, o conservador Julian Knight considerou “absolutamente extraordinário” que a BBC tivesse voltado a contratar um “conhecido mentiroso” como correspondente de assuntos religiosos em 2016, quando Hall era director-geral da emissora.

Também John Birt, que era director-geral da BBC na altura da entrevista, foi chamado a prestar declarações, tendo descrito Bashir como “um mentiroso reincidente”, considerando que as suas acções foram “um dos maiores crimes na história da radiodifusão”. Já sobre Matt Wiessler, Birt preferiu não comentar.

A 20 de Maio, foi divulgada a conclusão da investigação ao processo da entrevista à princesa Diana pelo jornalista Martin Bashir, em 1995. O documento, do juiz jubilado John Anthony Dyson, pormenoriza que “Bashir enganou [Charles Spencer] e induziu-o a marcar um encontro com a princesa Diana”, considerando que o jornalista “agiu de forma inadequada”. Já sobre a BBC, o relatório conclui que Bashir mentiu repetidamente aos seus chefes sobre a forma como a entrevista foi obtida, acusando os gestores da BBC de não terem examinado devidamente a situação e de terem ocultado factos sobre a forma como Bashir tinha conseguido a entrevista.

Depois da revelação, o príncipe William teceu duras críticas ao jornalista em causa e à BBC, declarando, num vídeo publicado no Twitter, que a entrevista “jogou com os medos e alimentou a paranóia” da mãe nos seus últimos anos de vida. Sobre os chefes da BBC da época, William considerou “que olharam para o lado em vez de fazerem as perguntas difíceis”.

Para o actual director-geral da BBC, Tim Davie, citado pela BBC Online, os comentários do príncipe constituem “um momento muito baixo” para a instituição, revelando que desde então tem realizado reuniões privadas com a família real, no sentido de recuperar a relação de confiança.

A entrevista em questão, que foi vista na altura por mais de 20 milhões de pessoas, foi considerada um “furo jornalístico”gerou controvérsia devido às confissões de Diana, que, entre outros temas, abordou relações extraconjugais, distúrbios alimentares e problemas de saúde mental. 

Martin Bashir já lamentou o facto de ter falsificado documentos, considerando o comportamento como “uma coisa estúpida”, mas insiste que a existência daqueles não interferiu com a decisão de Diana em ser entrevistada nem com as declarações que proferiu.