Tribunal internacional da ONU confirma prisão perpétua de Ratko Mladic

O tribunal determinou que Mladic teve um papel crucial em alguns dos mais terríveis crimes cometidos no continente europeu depois do Holocausto, nomeadamente o massacre de Srebrenica de 1995.

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O antigo chefe militar dos sérvios da Bósnia, Ratko Mladic, no julgamento em Haia, nos Países Baixos POOL/Reuters

O tribunal internacional da ONU que continua o trabalho do antigo Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia (TPI-J) manteve as condenações contra o antigo chefe militar dos sérvios da Bósnia, Ratko Mladic, depois de a defesa ter pedido recurso. O veredicto desta terça-feira por parte do Mecanismo para os Tribunais Penais Internacionais (MPTI) confirma a pena de prisão perpétua do “carniceiro da Bósnia” por dez acusações de genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

O tribunal concluiu que Ratko Mladic teve um papel crucial em alguns dos mais horrendos crimes cometidos no continente europeu depois da II Guerra Mundial. No que diz respeito ao massacre de Srebrenica, o tribunal determinou que Mladic teve um papel crucial no desfecho, uma vez que comandava tanto as unidades militares, como as unidades policiais que estiveram envolvidas na morte de cerca oito mil pessoas.

“Os actos do acusado foram tão instrumentais para a realização dos crimes que, sem ele, os crimes não teriam sido cometidos como foram”, foi dito no tribunal. Mladic vai permanecer detido em Haia, Países Baixos, onde se situa a sede do tribunal, enquanto se realizam as negociações para a sua transferência.

Mladic foi também acusado pela campanha de 1992 do seu exército, na qual croatas e muçulmanos da Bósnia foram expulsos das suas casas ou detidos arbitrariamente. Foi, no entanto, absolvido desta última acusação.

O antigo militar, de 78 anos, liderou as forças militares dos sérvios da Bósnia durante a guerra da Bósnia de 1992 e 1995. Junta-se agora ao antigo líder político dos sérvios da Bósnia, Radovan Karadzic, na pena perpétua por ter participado na limpeza étnica dos muçulmanos da Bósnia e na guerra civil que se seguiu ao desmembramento da antiga Jugoslávia.

Depois de mais de uma década a monte, Mladic foi condenado a prisão perpétua em 2017 por vários crimes, incluindo o tratamento inumano dos prisioneiros em campos de detenções, o cerco de 43 meses a Sarajevo, capital da Bósnia, e o massacre de mais de oito mil homens e rapazes em Srebrenica, em 1995.

Munira Subasic, presidente de uma das associações das “mães de Srebrenica”, e cujo filho e marido foram mortos pelas forças sérvias que mancharam Srebrenica de sangue, disse, citada pela Reuters: “Onde o seu exército passou, onde as suas botas passaram, ele cometeu genocídio. Ele matou todas aquelas pessoas apenas porque não eram sérvias”.

Tal como Subasic, outras mães de Srebrenica aguardaram do lado de fora do tribunal pelo ansiado veredicto da justiça: “Hoje é um dia histórico, não apenas para nós, mães de Srebrenica, mas para os Balcãs, para a Europa e para todo o mundo”.

O antigo procurador do TPI-J, Serge Brammertz, que supervisionou a captura de Mladic, salientou a importância do veredicto final, não só para o tribunal, mas especialmente para as vítimas e sobreviventes, porque “simboliza os crimes de guerra cometidos, o ódio, o sofrimento humano”, disse ao Guardian

Também o Presidente norte-americano, Joe Biden, descreveu o julgamento como um momento de esperança: “Este julgamento histórico mostra que aqueles que cometeram crimes terríveis serão responsabilizados”, afirmou Biden.

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