O futuro da saúde na Europa: das palavras à ação!

A Europa tem a oportunidade de mostrar que grandes ideias e projetos podem emergir de uma crise profunda. Cabe a todos os intervenientes do sector europeu da saúde, públicos e privados, mostrar que estamos à altura do desafio.

Em muitos sentidos, a pandemia de covid-19 abalou a nossa relação com o tempo (de forma conceptual).

Ao nível da ciência, várias vacinas foram desenvolvidas e produzidas a um ritmo que desafia todos os precedentes históricos, graças à cooperação sem precedentes entre as autoridades de saúde e a indústria farmacêutica.

No plano económico, a rápida resposta à crise mostrou que muitos países tiraram lições importantes da crise financeira de 2008. Na Europa, por exemplo, os 27 países membros acabam de ratificar um plano de recuperação histórico alavancado pelos membros fundadores que servirá de esteio às economias enfraquecidas pela crise de saúde.

A nossa atenção deve agora centrar-se coletivamente na construção de uma Europa mais forte e resiliente em matéria de cuidados de saúde, uma Europa que posicione a saúde no centro da sua estratégia de recuperação económica e do seu futuro.

A União Europeia não pode desperdiçar o contexto e o tempo presente, devendo fazer todos os esforços para se atualizar nas mais diversas áreas e agarrar o momentum. Países como os Estados Unidos, Singapura e China já há muito que têm vindo a investir energia e recursos em inovação científica e tecnológica nas suas próprias indústrias de saúde.

Na Europa, surgiu uma ambição política semelhante nos últimos meses, principalmente graças ao compromisso do Presidente francês Emmanuel Macron, da chanceler alemã Angela Merkel e da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. O anúncio da criação da Autoridade de Preparação e Resposta a Emergências Sanitárias (HERA), que será responsável pela preparação da Europa para os riscos de uma pandemia, é um grande passo a nível institucional. Mas vai demorar até 2023 para que esta organização se torne operacional e esteja habilitada a tomar decisões que, por sua vez, levarão anos a ser implementadas.

Há um ano, a Sanofi tomou a iniciativa de investir 610 milhões de euros na investigação e produção de vacinas em França, dotando a Europa com novas capacidades industriais estratégicas para o futuro. Outros investimentos necessários em tecnologias como mRNA ou anticorpos monoclonais não podem esperar pelas conclusões derivadas de longos processos institucionais.

O desafio agora é estabelecer as estruturas adequadas que permitam à Europa começar imediatamente a fazer investimentos que levarão vários anos a dar os seus frutos. Caso contrário, corremos o sério risco de atrasar e limitar a capacidade de a Europa responder a futuras emergências de saúde.

É também necessário garantir a produção e o abastecimento de medicamentos essenciais na Europa. Nas fases iniciais da pandemia, a Sanofi anunciou a sua intenção de criar uma nova empresa líder do setor, com sede na Europa, para fornecer princípios ativos. Este projeto será materializado em seis centros europeus que produzirão as moléculas essenciais utilizadas na composição de qualquer medicamento e tem o seu arranque previsto para 2022. Mas, o mesmo só terá sucesso se a indústria e os Estados-membros colaborarem para criar condições que garantam que as políticas de aquisição e de abastecimento são compensadoras e que têm em consideração os custos e as particularidades da produção destes medicamentos essenciais na Europa.

Finalmente, a pandemia revelou a fragilidade da Europa na gestão de emergências de saúde e a necessidade de reposicionar a Europa no mapa da inovação em áreas como a bioprodução, a imunologia e terapêuticas genéticas e celulares. Também neste caso, é chegado o momento de passar da palavra à ação. Embora a Europa tenha tudo para se tornar um centro mundial de ciências biológicas – talento, recursos, capacidade académica –, o seu capital humano e intelectual abandona o continente com demasiada frequência para seguir os avanços terapêuticos do amanhã. Esta é uma consequência direta do insuficiente apoio do capital de risco público e privado.

Tempo é crucial. O futuro da Europa depende da nossa capacidade de reunir os setores público e privado em torno de uma ambição comum, combinando a melhor investigação académica, investimento em tecnologias de vanguarda, uma pegada industrial de classe mundial e condições atrativas para investimentos privados. Este ecossistema será a pedra basilar da recuperação económica e do futuro do continente.

A Europa tem a oportunidade de mostrar que grandes ideias e projetos podem emergir de uma crise profunda. Cabe a todos os intervenientes do sector europeu da saúde, públicos e privados, mostrar que estamos à altura do desafio.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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