DGPC deu luz verde a utilização de granito no pavimento do Largo da Sé Velha

Intervenção da câmara de Coimbra motivou protestos, mas a tutela diz que projecto “mantinha na maioria da sua extensão o uso de materiais tradicionais”.

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A Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) deu parecer positivo ao projecto de intervenção da Câmara Municipal de Coimbra (CMC) para o Largo da Sé Velha. A obra está a gerar polémica por prever a utilização de granito, uma pedra pouco comum na cidade até ao século XX, no pavimento de uma zona que está classificada como património mundial da UNESCO desde 2013.

Em resposta às questões enviadas pelo PÚBLICO, a DGPC, entidade que tem a competência de se pronunciar sobre as alterações nesta área classificada, explica que, em Julho de 2017, sob proposta da Direcção Regional da Cultura do Centro (DRCC), emitiu um parecer “favorável condicionado à revisão de um conjunto de soluções e à realização de trabalhos arqueológicos”. Este documento dizia respeito ao estudo prévio submetido pela autarquia, que, entre outros aspectos, fazendo menção à “manutenção de toda a pavimentação em seixo” e incluía também a instalação de “passadeiras de conforto” em “lajetas de granito”.

Seguiu-se o parecer sobre o projecto base, em Agosto de 2017, com a DGPC – novamente sob proposta da DRCC – a responder afirmativamente, uma luz verde condicionada à revisão de “um conjunto de soluções” e da realização de trabalhos arqueológicos.

Mas nenhuma das condições tropeçava no granito. A DGPC, que cita partes do parecer mas não envia o documento, refere que os técnicos consideraram que as soluções apresentadas pela CMC “se integram de forma natural e satisfatória com os elementos existentes, estruturais, deste espaço a reabilitar, sendo por conseguinte passíveis de aceitação”.

Segundo a DGPC, foi a apreciação técnica da DRCC que fez com que as passadeiras de conforto – que até aí eram apenas linhas - fossem substituídas “por trama regular”, ou seja, pela grelha de granito que está a ser alvo de críticas. Na articulação com os serviços da autarquia, houve ainda tempo para evitar a utilização de aço corten – chapa de aspecto oxidado – para formatar desníveis dando-se preferência a “elementos pétreos”.

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“Em síntese, a DGPC e a DRCC, na sua análise técnica sobre os impactos da intervenção junto dos valores patrimoniais presentes no local, consideraram que o projecto apresentado não alterava de forma significativa a topografia do terreno e mantinha na maioria da sua extensão o uso de materiais tradicionais, como o seixo rolado e a pedra calcária”, responde ao PÚBLICO a entidade, através do gabinete de imprensa.

“A proposta foi largamente discutida e reformulada para responder às preocupações manifestadas pela DRCC e DGPC”, sublinha. A utilização de granito não entrou nessa lista de preocupações, embora tenha alarmado especialistas. A modificação levou o geólogo e professor catedrático da Universidade de Coimbra, Pedro Proença e Cunha, a arquitecta e historiada Isabel Anjinho e a arqueóloga Catarina Quinteira a enviar um pedido de esclarecimento à DGPC, que ainda não deu resposta.

A reacção pública começou com a intervenção nas escadas do Quebra Costas, que fazem a ligação do Largo da Sé Velha à Baixa da cidade. A autarquia substituiu os já gastos degraus em calcário por novos blocos de granito, o que levou a protestos e a uma petição pública que conta já com mais de 1800 subscrições e que considera que classifica a escolha daquela pedra “exótica”. Pedro Proença e Cunha considera que a utilização de granito provoca uma “descaracterização da matriz original” da zona histórica da cidade.

A CMC, que não respondeu às questões do público, publicou um longo texto no site da autarquia a explicar o histórico da intervenção, sublinhando que a intervenção tem como objectivo “melhorar a segurança”. 

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