Covid-19: Recessão e violência entre as sequelas da pandemia em África, diz relatório

Segundo o presidente da Fundação Mo Ibrahim, a recuperação económica deve passar pela criação de um futuro mais sustentável, independente e inclusivo”.

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Um polícia detém um homem durante uma patrulha durante o recolher obrigatório nocturno em Pretória, África do Sul SIPHIWE SIBEKO/Reuters

Uma grande parte do continente africano tem sido poupada ao elevado número de mortes causadas pela pandemia de coronavírus que devastou outras regiões do globo. Mas o continente enfrenta, agora, não só uma recessão e uma maior taxa de desemprego, mas também uma crescente onda de violência, avançou o relatório de 2021 da Fundação Mo Ibrahim, publicado esta quarta-feira.

Segundo o relatório Covid-19 em África, um ano depois: desafios e perspectivas, os países africanos implementaram restrições sobre a mobilidade e rastrearam os contactos sociais desde o início da pandemia, potencialmente salvando milhões de vida.

Mas “a paralisação económica conduziu a região a uma recessão pela primeira vez em 30 anos, com severas repercussões no desemprego, pobreza, desigualdades e no acesso aos bens alimentares”.

Ainda, África foi o único continente onde a violência aumentou no decorrer na pandemia. A violência de grupo aumentou 78%, com mais de 90 pessoas mortas pelas forças de segurança que implementavam restrições à mobilidade e medidas de isolamento social.

Em simultâneo, a resolução de conflitos e os esforços contra-insurreições retrocederam nos seus progressos, abrindo caminho a grupos extremistas para explorarem as lacunas dos Estados na resposta à pandemia.

“A covid-19 já foi integrada na propaganda de grupos como o Al Shabab e o Boko Haram, ajudando-os a justificar as suas causas”, disse Camilla Rocca, dirigente da investigação da fundação.

“Querem mostrar-se como fornecedores de serviços, com o Al Shabab, por exemplo, a abrir clínicas, e com a ramificação do Daesh [na República Democrática do Congo] a fornecer medicamentos”, continuou.

Por isso, salienta o documento, a estratégia de recuperação tem de pôr ênfase na criação de empregos sustentáveis. Uma solução passaria por criar uma indústria de produção de vacinas no continente, gerando emprego em vários sectores e combatendo, ao mesmo tempo, as necessidades dos frágeis sistemas de saúde.

“Aproveitando as lições da covid-19, o nosso continente pode criar um futuro mais sustentável, independente e inclusivo”, disse o empresário Mo Ibrahim, fundador e presidente da fundação com o seu nome.

O relatório foi publicado na véspera do início do Ibrahim Governance Weekend 2021, um fórum sobre o impacto da pandemia na saúde, economia e política em África, onde serão apresentadas propostas para a recuperação do continente.

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