O bullying mata

Todos os adultos têm um papel muito importante na prevenção e combate ao bullying. Porque o bullying destrói o bem estar e a sensação de segurança. Diminui a autoestima e a confiança em si mesmo e nos outros. E, no limite, o bullying mata.

Um jovem de 13 anos de idade foi atropelado quando tentava fugir de um grupo de colegas, que o agrediam de várias formas. De acordo com as declarações do pai deste jovem, existiam já agressões prévias, o que permite enquadrar esta situação, em abstrato, como bullying [1].

O bullying envolve um conjunto de comportamentos agressivos, humilhantes e de exclusão, efetuados de forma repetida e intencional, implicando sempre uma assimetria de poder: as crianças agressoras usam o seu poder (força física ou psicológica, estatuto ou o acesso a informação constrangedora) para tentar controlar e prejudicar outras crianças. Pode envolver comportamentos tão diversos como ameaçar, espalhar boatos, excluir deliberadamente alguém do grupo, agredir verbal ou fisicamente.

Tanto os rapazes como as raparigas podem ser agressoras ou vítimas de bullying. Por norma, os rapazes praticam um bullying mais verbal e físico, enquanto as raparigas adotam comportamentos de carácter psicológico ou relacional.

O bullying pode acontecer dentro ou fora da escola, noutros contextos (como o Atelier de Tempos Livres ou o desporto) ou online (p. ex., em grupos de conversação, blogs ou redes sociais).

Não existe um conjunto de sinais e sintomas específicos de bullying, sendo que alguns indicadores podem relacionar-se com a fase do desenvolvimento ou dificuldades específicas da criança. No entanto, devemos estar atentos a alguns sinais e sintomas que se observam mais frequentemente. A nível emocional, as crianças podem manifestar medo, ansiedade, oscilações frequentes de humor, impaciência, zanga, irritabilidade ou tristeza. Os seus padrões de sono e alimentares podem evidenciar alterações. Podem ainda ter queixas físicas, como dores de cabeça ou de barriga, dores difusas, vómitos ou cansaço persistente, sem que haja qualquer causa orgânica que o justifique.

Na escola, revelam muitas vezes dificuldades de atenção e concentração, com um impacto negativo no seu rendimento académico. Também o isolamento e comportamentos de evitamento (p. ex., evitar contextos onde estão os colegas, como uma festa de aniversário, uma visita de estudo ou o transporte escolar) são sinais de alerta importantes.

Há também que estar atento ao aparecimento de nódoas negras ou feridas sem uma explicação coerente, aos materiais escolares que aparecem estragados ou “desaparecem”, aos pedidos extra de dinheiro ou às faltas injustificadas às primeiras ou últimas aulas do dia.

As crianças que são vítimas de bullying tendem a manter segredo porque sentem vergonha e medo. Medo de retaliações, medo de não serem acreditadas ou apoiadas, medo de serem culpabilizadas ou, ainda, que lhes seja exigida uma reação semelhante (“se ele te bate, bate-lhe também!”).

Relativamente às crianças agressoras, estas são muitas vezes populares e podem ter amigos, ainda que as suas amizades sejam baseadas no medo.

Todos os adultos (pais/encarregados de educação, professores, psicólogos, outros técnicos) têm um papel muito importante na prevenção e combate ao bullying. Porque o bullying destrói o bem estar e a sensação de segurança. Diminui a autoestima e a confiança em si mesmo e nos outros. E, no limite, o bullying mata.

[1] Sugestão de leitura: Agulhas, R. & Amorim, S. (2020). Um por todos, todos contra o bullying – prevenção da violência em idade escolar. Lisboa: Ideias com História, em parceria com a Ordem dos Psicólogos Portugueses.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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