Suspeita de teste à covid-19 falsificado na origem de buscas ao FC Porto

Em causa está uma viagem de avião, para o estrangeiro, realizada pelo jogador do clube Shoya Nakajima, alegadamente com covid-19, uma actuação susceptível de configurar a prática de crime de propagação de doença.

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Reuters/Miguel Vidal

O estádio do FC Porto, o centro de estágios do clube e vários locais no Algarve estão esta quinta-feira a ser alvo de uma operação de buscas dirigida pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) em articulação com a Polícia Judiciária. Na origem desta investigação está uma viagem de avião, para o estrangeiro, realizada pelo jogador do FC Porto, o japonês Shoya Nakajima, alegadamente com covid-19, uma actuação susceptível de configurar a prática de crime de propagação de doença, explica o Ministério Público num comunicado em que são omitidos o nome do desportista e do clube.

O PÚBLICO apurou que o jogador do FC Porto que foi emprestado em Janeiro ao clube Al-Ain, dos Emirados Árabes Unidos, terá testado positivo à covid-19 antes de viajar. No entanto, terá conseguido obter uma declaração de que estava negativo, o que lhe permitiu realizar a viagem de avião. As autoridades estão a tentar perceber como tal foi possível e já se deslocaram a vários laboratórios de análise na cidade do Porto.

A multinacional de análises Unilabs, que trabalha para o FC Porto e para outros clubes, e a rede de análises Germano de Sousa foram dois dos laboratórios visitados pela PJ. O médico Germano de Sousa confirmou ao PÚBLICO as buscas, explicando que o jogador e a família foram testados no seu laboratório no Porto a 11 de Janeiro, nas vésperas de viajarem e que o resultado de todos foi negativo, o que foi possível comprovar às autoridades através dos registos técnicos dos exames. 

A Unilabs também confirma, numa declaração escrita enviada ao PÚBLICO, que as autoridades estiveram “nas suas instalações administrativas e laboratoriais, nas cidades do Porto e de Matosinhos”. A multinacional garante que colaborou com as autoridades na recolha de todos os elementos solicitados e diz reiterar a “confiança nas nossas equipas e nos resultados que entregamos todos os dias a milhares de portugueses”. 

A própria SAD portista já veio confirmar as buscas através de um comunicado, em que garante que “como sempre, colaborou com a Justiça na recolha de todos os elementos solicitados para a investigação em curso”.

Antes a Procuradoria-Geral da República já divulgara que estavam a decorrer “cerca de uma dezena de buscas designadamente domiciliárias e a laboratórios de análises clínicas”. A nota dava conta que nas diligências participam um juiz, magistrados do Ministério Público e elementos da Unidade Nacional de Combate à Corrupção, da Polícia Judiciária. “A operação conta ainda com a colaboração de elemento do INSA – Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge para pesquisa, análise e eventual apreensão de documentação e outra matéria probatória, a ser posteriormente analisada. Tais diligências decorrem nas regiões do Algarve e do Porto”, detalhava a nota.

Logo o início da manhã foi avançado pela revista Sábado que estava a decorrer uma operação de buscas na SAD do FC Porto, na residência do seu presidente e nas instalações do portimonense no Algarve, no âmbito de uma investigação a negócios de transferências de jogadores entre os dois clubes, o que não se veio a confirmar.

O PÚBLICO confirmou a existência de buscas no estádio do FC Porto e no centro de estágios do clube, mas não na residência do presidente da SAD, Jorge Nuno Pinto da Costa.​ Apurou ainda que as mesmas não estão associadas a qualquer negócio de transferência de jogadores. O processo que está em investigação foi aberto já este ano e, por ordem da procuradora-geral, foi entregue ao DCIAP, estando a cargo de uma das duas equipas que concentram os inquéritos que investigam suspeitas de crimes de colarinho branco em negócios do mundo futebolístico. 

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