Madonna, Andy Warhol, o artista de graffiti Angel Ortiz conhecido como LA II,  Fab Five Freddy ou talvez, talvez, Jean-Michel Basquiat deixaram a sua marca na porta do frigorífico de Keith Haring. Esta quarta-feira, o inusitado objecto vai a leilão em Nova Iorque, na Guernsey’s. “Parece que toda a gente que era alguém [importante] aparecia por lá e assinava a porta do frigorífico”, diz o leiloeiro Alan Ettinger ao New York Times. “Não é um objecto bonito, mas é daquele momento, daquele tempo. Reflecte um certo espírito, uma criatividade, que está viva hoje se pensarmos nas pessoas que lá estiveram — Madonna e uma longa, longa lista de artistas.”

O proprietário da porta de frigorífico tornada arte com um momento e um mundo lá dento é uma instrutora de ioga da Califórnia que quer permanecer anónima, conta o New York Times. Anónimos não eram os convidados de Keith Haring (1958-1990), artista e activista cujo traço vivaz e associado ao graffiti se tornou uma espécie de grande ícone amalgamado, mil vezes reproduzido e facilmente identificável. “Madonna Loves Keith”, escreveu a cantora. “JM”, escreveu outra visita — Alan Ettinger não quer ser taxativo mas estima que possam tratar-se das iniciais de outro artista de curta vida e grande importância, Jean-Michel Basquiat.

Há também escritos simples — “DEAN” —, tags ou garatujas várias, e a assinatura de Andy Warhol, rosto tão nova-iorquino quanto mundial e da pop art. Há pelo menos uma figura desenhada por Haring, uma mancha negra com estrelas e setas, e um autocolante do seu “radiant baby”. Madonna passava noites no apartamento de Haring quando tentava lançar a sua carreira nos anos 1980. Fab 5 Freddy, pioneiro do hip-hop, deixou uma tag azul. Há imagens da época de Haring no seu coloridíssimo apartamento ao lado do frigorífico desenhado. A estimativa do preço de venda ronda as “centenas de milhares de dólares”, diz Ettinger ao diário norte-americano.

O frigorífico estava na casa do SoHo de Haring, no número 325 da rua Broome, alugada pela actual proprietária da porta do electrodoméstico em 1990 depois de ter visto um anúncio no jornal gratuito da contracultura The Village Voice. As paredes também estavam completamente pintadas, soube na altura, mas o senhorio pintara por cima do graffiti. A porta do “frigorífico Haring”, como a proprietária o descreveu num email à leiloeira, quase se perdeu quando o electrodoméstico se avariou e foi substituído por um novo — o estafeta deitou fora o frigorífico desenhado e as duas colegas de casa tiveram de correr até um beco para resgatar a sua porta, relatava há dias o tablóide New York Post. A porta viajaria com ela depois para Washington, onde ficou cerca de 20 anos num sótão. Há uma década, foi ter com a dona à Califórnia e esta quarta-feira procurará nova casa.