Cartas ao director

Estuário do Tamisa livre de aeroporto

A possível perda de 30% (!) das áreas de alimentação das aves noticiada pelo PÚBLICO, se a construção do novo aeroporto do Montijo for avante, é inaceitável.

Vivi em Londres na última década, onde acompanhei o debate sobre a expansão da capacidade aeroportuária da cidade de Londres. Nesse debate, o actual primeiro-ministro inglês, Boris Johnson, enquanto mayor de Londres, queria construir um aeroporto no estuário do Tamisa. Essa proposta, felizmente, não prevaleceu, em grande parte por razões ambientais: o estuário do Tamisa, como o estuário do Tejo, é um habitat de enorme importância ecológica para aves, peixes, moluscos, crustáceos e plantas.

O estuário do Tejo é um dos habitats mais ricos em biodiversidade do território português, dando abrigo a aves de extraordinária beleza e musicalidade como os alfaiates, maçaricos, pilritos e tarambolas que espero poder dar a conhecer aos meus filhos e gerações futuras. É por isso que sou contra o aeroporto do Montijo.

Nuno Magalhães, República Checa

Cimeira do Porto

O PÚBLICO deu um bom resumo da cimeira do Porto sob o título “O que se discutiu à margem da cimeira”. No plano social, a pandemia “revelou desigualdades já existentes e dramáticas”. Mulheres, jovens e precários foram afectados com mais violência - “se não a conseguirmos travar esta desigualdade crescente vai manter-se no futuro” disse o secretário-geral da OIT. A Europa quer reduzir em 15 milhões os seus 91 milhões de pobres e excluídos, fez para isso uma “recomendação” porque não conseguiu transformá-la numa “directiva” que teria outro peso jurídico. “Depois de vos ouvir a todos é difícil perceber porque temos um problema, visto que estamos todos de acordo”, disse a vice-presidente da Comissão, Margrethe Vestager.

Sobre as patentes das vacinas, o PÚBLICO limitou-se a repetir a justificação coxa da UE, destinada a esconder as suas divisões: o levantamento das vacinas “não resolve a questão do acesso a médio e curto prazo”. A UE deita culpas sobre o Presidente Biden e afirma-se mais generosa - exportou para fora da União 50% das vacinas produzidas. A jornalista não relembrou que a UE ameaçou empresas produtoras que as exportam no quadro de acordos comerciais, reclamando prioridade para fornecimento do mercado interno. A generosidade da UE seria mais esclarecida se fossemos informados sobre a percentagem destas vacinas exportadas para os países pobres no quadro da iniciativa Covax.    

Jean Pierre Catry, Lisboa

Israel – um novo apartheid

apartheid sul-africano foi um sistema de segregação forçada baseada na raça e na religião, praticada por um grupo autoproclamado e exclusivo (os boers calvinistas) para consolidar uma conquista colonial e para manter e estender seu domínio sobre uma terra e os seus recursos naturais.

Hoje, nos territórios palestinianos ocupados, Jerusalém Oriental, Cisjordânia e Faixa de Gaza, o que temos é também um sistema de segregação (um novo apartheid) fundamentado igualmente na raça e na religião, praticado da mesma forma por um grupo autoproclamado e eliminatório para consolidar uma conquista neo-colonial (a partição em 1947, sob a égide das Nações Unidas, da Palestina num Estado judeu, num Estado árabe e numa administração directa das Nações Unidas sob Jerusalém) visando manter e estender, do mesmo modo, o seu domínio sobre uma terra e os seus recursos naturais. Descubra as diferenças, se elas existem.

Carlos Antunes, Parede

Dia da Europa

Em Agosto de 1974 realizámos o primeiro interrail pela Europa. Fomos dos primeiros a sair do Porto nessa aventura de conhecimento e cultura. Conhecemos a Europa livre e percebemos que já não éramos diferentes. Conhecemos muitos jovens da nossa idade que partilhavam do mesmo sentimento de liberdade e de união. Indignámo-nos perante as sucessivas guerras que dizimaram jovens da nossa idade e famílias idênticas às nossas. Revoltámo-nos perante os inúmeros atentados contra o património que destruíram catedrais e museus.

Percebemos que não poderia haver outro caminho para a harmonia entre as diferentes culturas europeias. A União Europeia pode ter muitos defeitos mas tem uma virtude que ultrapassa aqueles: a paz entre os diferentes povos.

Diogo de Macedo, Lisboa

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