Regime sírio já escolheu quem acompanha Assad no boletim das presidenciais

A única dúvida sobre o resultado é a dimensão da vitória do ditador, Bashar al-Assad, dez anos depois do arranque da revolta. E mais de 13 milhões de deslocados e refugiados depois.

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Uma faixa gigante de Assad em Douma, arredores de Damasco MARKO DJURICA/Reuters

O Tribunal Constitucional sírio aprovou os candidatos que se vão apresentar às eleições presidenciais de 26 de Maio: para além do actual Presidente, Bashar al-Assad, outros dois nomes receberam aprovação para avançar, Abdallah Saloum Abdallah e Mahmoud Ahmed Marei. Os restantes 49, incluindo sete mulheres, não cumpriam os requisitos legais e constitucionais, diz o presidente do Tribunal, citado pela Associated Press.

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O Tribunal Constitucional sírio aprovou os candidatos que se vão apresentar às eleições presidenciais de 26 de Maio: para além do actual Presidente, Bashar al-Assad, outros dois nomes receberam aprovação para avançar, Abdallah Saloum Abdallah e Mahmoud Ahmed Marei. Os restantes 49, incluindo sete mulheres, não cumpriam os requisitos legais e constitucionais, diz o presidente do Tribunal, citado pela Associated Press.

As eleições, as segundas presidenciais desde o início da revolta, há dez anos, foram anunciadas a meio de Abril. As de 2014, consideradas ilegítimas por toda a oposição, pela União Europeia e pelos Estados Unidos, assinalaram a primeira vez em que houve candidatos na Síria que não são da família Assad – dois, tal como agora, igualmente pouco conhecidos. Como há sete anos, não se espera que façam uma campanha significativa.

A única dúvida sobre o resultado é a dimensão da vitória do ditador que herdou o poder do pai, Hafez al-Assad, em 2000, com a sucessão confirmada num referendo de resultado decidido à partida: em 2014, venceu com 92% dos votos, de acordo com os números oficiais.

Sabe-se que a Rússia, grande aliado que garantiu a sobrevivência militar e política de Assad na última década, queria que houvesse alguma concorrência e um resultado mais disputado, para poder apresentar Bashar como tendo alguma legitimidade, mas não terá conseguido convencer Damasco.

Mesmo que alguém quisesse arriscar apresentar-se a votos para oferecer uma alternativa real, é quase impossível que chegasse a ver o seu nome nos boletins. Para além de terem de viver há uma década de forma ininterrupta na Síria – o que exclui todos os que foram obrigados a fugir para sobreviver desde 2011 – os candidatos tinham também de conseguir o apoio de um mínimo de 35 deputados, de um Parlamento dominado pelo Partido Baas.

Apesar de o regime ter esmagado a oposição nos últimos anos, com o apoio da Rússia e também do Irão, ainda houve dezenas de activistas com coragem para questionar a legitimidade destas eleições e que foram detidos nas últimas semanas, escreve a agência Reuters.

Responsáveis das Nações Unidas afirmaram há dias que a eleição não cumpre as resoluções do Conselho de Segurança, onde se pede um processo político negociado com a oposição que permita começar a pôr fim ao conflito desencadeado pela resposta brutal do regime às manifestações pró-democráticas (e inicialmente pacíficas) que começaram em Março de 2011.

As resoluções apelam à redacção de uma nova Constituição e à realização de eleições supervisionadas pela ONU com “os mais altos padrões de transparência e responsabilização”.

Em Março, a Administração de Joe Biden já disse que não reconheceria o resultado das presidenciais a não ser que estas fossem livres e justas, supervisionadas pela ONU e que representassem o conjunto da sociedade síria.

Os sírios da diáspora – pelo menos 6,6 milhões tornam-se refugiados na última década, de um total de mais de 13 milhões que fugiram das suas casas para escapar à violência – não tencionam votar, apesar de estar previsto que o possam fazer, nas embaixadas e consultados, a 20 de Maio. A maioria considera que isso serviria apenas para o regime ter acesso aos seus dados e moradas actuais, temendo perseguições.

Pelo menos 500 mil sírios morreram no conflito, a esmagadora maioria às mãos do regime, e 100 a 250 mil foram detidos ou desapareceram.