Sírios chamados a reeleger Assad em Maio

Segundas eleições presidenciais desde o início da revolta contra o regime vão realizar-se quando a Síria enfrenta uma grave crise económica. Não se prevê nenhuma oposição real ao Presidente.

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Assad chegou ao poder em 2000, depois da morte do pai, Hafez LUSA/YOUSSEF BADAWI

Oficialmente, Bashar al-Assad ainda não é candidato à sua reeleição; na prática, não se espera que enfrente nenhum verdadeiro rival nas presidenciais que a Síria vai realizar no próximo mês. De acordo com o anúncio, feito este domingo pelo presidente do Parlamento, só poderão apresentar-se a votos os candidatos que tenham vivido ininterruptamente no país nos últimos dez anos, o que excluiu a oposição no exílio. A revolução contra a ditadura de Assad começou há uma década – desde então, 13,2 milhões de sírios fugiram de casa, incluindo 6,6 milhões que são refugiados.

Os potenciais candidatos poderão registar-se a partir de segunda-feira, disse ainda Hamouda Sabbagh. Para além da obrigatoriedade de viverem há uma década no país terão ainda de conseguir o apoio de pelo menos 35 membros do Parlamento, dominado pelo Partido Baas.

As eleições de 20 de Maio serão as segundas presidenciais desde que a Síria mergulhou no conflito desencadeado pela brutal repressão da ditadura à revolta inicialmente pacífica. Desde então, pelo menos 500 mil sírios morreram (a maioria às mãos do regime, apesar da violência dos jihadistas do Daesh) e 100 a 250 mil foram detidos ou desapareceram.

As eleições de 2014 foram consideradas ilegítimas por toda a oposição, assim como pela União Europeia e pelos Estados Unidos – o filho de Hafez al-Assad, que chegou ao poder com a morte do pai, em 2000, venceu com 92% dos votos, isto apesar de ter havido, pela primeira vez, dois candidatos que não eram da família Assad, sírios pouco conhecidos e que quase não fizeram campanha. 

Tal como aconteceu com as legislativas do ano passado, estas eleições serão mais uma tentativa do regime para dar uma ideia de normalidade. E uma vez mais não poderão realizar-se nos cerca de 30% do território que ainda foge ao controlo governamental, no Norte, Noroeste e Nordeste do país.

Nos últimos anos, graças ao apoio do Irão e, principalmente, da Rússia, o regime foi esmagando a oposição, ao mesmo tempo que evitava consequências a nível internacional (para além da sanções em vigor contra responsáveis políticos e militares, e alguns empresários).

Em 2020, o jornalista e analista Anton Mardasov dizia à Al-Jazeera que Moscovo ia preferir umas presidenciais com alguma concorrência e resultados mais disputados do que nas eleições de há sete anos para poder apresentar o regime como tendo alguma legitimidade.

Nenhum dos aliados está preparado para deixar cair Assad mas ambos enfrentam os seus próprios problemas e precisam de gastar menos dinheiro no conflito. Isto numa altura em que a Síria vive uma crise económica profunda, com falhas de electricidade frequentes, faltas de alimentos e longas filas para comprar pão e combustível em zonas controladas pelo Governo.

Muitos negócios têm sido obrigados a fechar, provocando um aumento do desemprego nos últimos meses. Face à inflação – ao longo de 2020, a libra síria perdeu três quartos do seu valor – cada vez há mais sírios que não podem comprar alimentos básicos. De acordo com as Nações Unidas, nove em cada dez sírios vivem agora na pobreza, e 60% da população está em risco de passar fome.

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