Assad conquista maioria nas legislativas, oposição no exílio diz que eleições são “ilegítimas”

Milhões de sírios deslocados devido à guerra não conseguiram votar. Oposição no exílio diz que o povo “não teve liberdade de voto”.

Foto
Assembleia de voto em Douma, nos arredores de Damasco OMAR SANADIKI/Reuters

O partido Baas, do Presidente sírio Bashar al-Assad, conquistou uma maioria nas eleições parlamentares do último domingo, confirmando um resultado que já era dado como certo. A oposição no exílio, contudo, disse que as eleições foram “ilegítimas”.

De acordo com os números avançados pela comissão eleitoral síria, o partido Baas e os seus aliados conquistaram 177 dos 250 mandatos, numa eleição que contou com uma participação eleitoral de 33%, menos 24 pontos percentuais do que nas eleições de 2016.

As eleições decorreram apenas em parte do território, nos 70% controlados pelas forças do regime. Foram colocadas mais de sete mil assembleias de voto e alguns bastiões recuperados pelas forças governamentais aos rebeldes, com o apoio da Rússia e do Irão, foram a votos pela primeira vez desde o início da guerra.

Além da vitória anunciada do partido de Assad, a elevada abstenção confirmou o que também era dado como adquirido: que milhões de sírios deslocados devido à guerra que dura há nove anos não conseguiriam votar.

Para a oposição, as eleições de domingo foram “ilegítimas”. “O regime escolheu os candidatos, inclusive os independentes, que foram eleitos”, disse Yahya al-Aridi, porta-voz da oposição, à agência alemã DPA. “O povo da Síria não teve liberdade de voto. Foi uma actuação de teatro por parte o regime”, lamentou

No mesmo sentido, os Estados Unidos, que têm imposto sanções à Síria, consideraram que as eleições não foram livres. “O regime de Assad levou a cabo eleições parlamentares fraudulentas e o voto não foi livre nem justo. Os sírios e o mundo não se deixam enganar pelo último exemplo de corrupção e repressão por parte de Assad”, afirmou em comunicado Morgan Ortagus, porta-voz do Departamento de Estado norte-americano.

Entre os eleitos nas eleições parlamentares, nota a Al-Jazeera, está Hussam Qatirji, um empresário sob sanções da União Europeia, acusado de apoiar combatentes do regime e de facilitar o tráfico de armas, munições e combustível entre o Governo de Assad e vários intervenientes na guerra síria, inclusive com o Daesh.

“A maioria dos sírios acredita que a eleição é apenas um processo controlado pelo regime para se representar a si próprio enquanto autoridade legítima na Síria”, afirmou ao mesmo canal pan-árabe o analista Zaki Mehchy, do think tank Chantam House. “As pessoas sabem que a maioria dos deputados são nomeados pelo partido Baas e que todos eles apenas precisam de aprovação baseada na lealdade e não nas suas qualificações”, acrescentou.

Com as eleições de domingo, Bashar al-Assad tentou demonstrar alguma normalidade no país, num altura em que controla 70% do território do país. No entanto, a Síria continua a ser palco de violentos confrontos entre forças do regime e rebeldes, e os protestos em Deera, onde a revolução começou, reacenderam-se nas últimas semanas.

Além disso, o país enfrenta uma grave crise económica, agravada pelas sanções impostas por Washington e pela União Europeia, bem como pela crise financeira no vizinho Líbano, que levou à queda do valor da libra síria no mercado negro.

 Outro dos problemas que o país enfrenta e para o qual não está preparado é a pandemia de covid-19. Segundo os números oficiais, a Síria regista 561 infectados com coronavírus e 31 mortes causadas pela doença. No entanto, teme-se que os números reais sejam muito maiores, tendo em conta os poucos testes que são realizados no país.

Sugerir correcção