Estação Sul e Sueste reabre como “o grande ponto de comunicação entre margens”

Edifício modernista que é Monumento de Interesse Público desde 2012 foi reabilitado para acolher operadores marítimo-turísticos, mas a arquitecta responsável pela reabilitação garante que o projecto “é para todos”. Doca da Marinha também abre ao público.

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As grandes clarabóias despejam a luz no espaço amplo e salta à vista a brancura do chão, das paredes, das imponentes colunas de mármore. Nem tudo é branco, bem entendido, mas a Estação Sul e Sueste conserva a aura de obra acabada onde ainda não entrou gente. Vontade não falta aos lisboetas, a julgar pelo número de cabeças que se colam às portas a espreitar para dentro.

Prestes a completar 90 anos de existência, a estação fluvial reabre este sábado para uma segunda vida depois de um longo período de abandono e degradação. Será “o grande ponto de comunicação entre margens” num momento em que vinga “a ideia de que o rio voltou a ser nosso”, acredita Ana Costa, a arquitecta responsável pela reabilitação.

Na estação de onde outrora se embarcava para o Barreiro vai agora ser possível apanhar um dos barcos que fazem passeios turísticos no Tejo e, em breve, também táxis-barco. A instalação de novos pontões, aliada à reabilitação e abertura ao público da Doca da Marinha, também este sábado, permitirá criar junto à Praça do Comércio aquilo a que a Associação de Turismo de Lisboa (ATL) chamou “o novo cais de Lisboa”.

Inaugurada em 28 de Maio de 1932, no sexto aniversário do golpe que pôs fim à Primeira República, a Sul e Sueste “assumiu-se como um edifício único, completamente moderno, uma coisa completamente nova”, explica Ana Costa, neta do arquitecto que desenhou a estação, Cottinelli Telmo. O melhor elogio que lhe podem fazer é que a reabilitação está fiel ao original. “Tudo foi desenhado com a cautela de os novos elementos não criarem dissonância com a arquitectura de Cottinelli Telmo.”

No grande salão alinham-se de um lado e doutro as bilheteiras dos operadores marítimo-turísticos, encimadas pelos brasões em azulejo de cidades e vilas alentejanas e algarvias. Ao centro apenas alguns sofás e, na fachada virada ao Tejo, o grande relógio pontualíssimo. Dali chega-se aos barcos e ao rio, junto ao qual estão umas cadeiras em metal. “Não foi só desenhar este edifício, foi desenhar todo aquele espaço”, refere Ana Costa, sublinhando: “Isto não é só para os turistas, é para todos nós. É para os lisboetas.”

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Gerida pela ATL por incumbência da Câmara de Lisboa, a reabilitação da Sul e Sueste foi anunciada em 2016 mas só em 2019 começou. Das três pessoas que em 2016 assinaram o protocolo de cedência entre o Estado e a autarquia, apenas Fernando Medina se mantém no mesmo cargo. Pedro Marques, que era ministro das Infra-Estruturas, é agora eurodeputado; Mário Centeno, que era ministro das Finanças, é o actual governador do Banco de Portugal.

Quem neste sábado regressa à Sul e Sueste é António Costa, que em 2014, quando era presidente da câmara, disse que o estado de degradação da antiga estação fluvial era “uma nódoa negra” e “uma vergonha para a cidade”.

Foi preciso esperar sensivelmente 20 anos para ter a Sul e Sueste reabilitada, mas demoras é coisa habitual na história desta infra-estrutura: até à sua inauguração em 1932 passaram-se cerca de 70 anos em que o embarque para a Outra Banda se fazia num barracão.

Adjacente à estação fluvial, para o lado do Cais das Colunas, chegou a estar prevista uma pála, mas essa opção foi abandonada e agora estão lá chapéus de sol. Recuperou-se o gradeamento original, alinhado com o torreão nascente da Praça do Comércio, e funcionará ali a esplanada de uma cafetaria. Do lado contrário, colado à interface dos barcos e do metro, foi instalado o chamado Centro Tejo, que é simultaneamente uma loja e uma mostra expositiva. Há uma maquete da Grande Lisboa, hologramas de pessoas ligadas ao rio e faróis que explicam pontos de interesse em ambas as margens.

O projecto interior é de Ana Costa e o exterior é de Bruno Soares, autor da reabilitação da Praça do Comércio. A Doca da Marinha, que também fica agora acessível, é da autoria do arquitecto Carrilho da Graça, que também desenhou o Terminal de Cruzeiros, o Campo das Cebolas.

Ali ainda estará em obras até ao fim do ano um restaurante, mas três quiosques concessionados ao BananaCafé e uma enorme esplanada vão já estar disponíveis. A doca, que sempre foi usada pela Armada, será casa das embarcações tradicionais do Tejo e do navio Creoula. No total, as obras custaram 30 milhões de euros e foram financiadas pela taxa turística e por dinheiro angariado pela ATL.

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