Governo angolano lança “operação de emergência” para limpar lixo em Luanda

Poluição na capital angolana agravou-se por causa da suspensão de contratos entre o governo da cidade e as operadoras de recolha de lixo, em Dezembro do ano passado. Ministra da Saúde, admite que existem riscos de cólera em Luanda.

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Chuvas fortes em Luanda agravaram problema da acumulação de lixo AMPE ROGÉRIO/EPA

O Governo angolano anunciou este sábado uma “operação de emergência” para limpar o lixo acumulado em Luanda, que arranca na segunda-feira, e que vai envolver empresas de limpeza e de construção e as Forças Armadas.

O plano foi apresentado em conferência de imprensa pela ministra de Estado para a Área Social, Carolina Cerqueira, que explicou que a comissão multissectorial que foi criada para apoiar o governo de Luanda “visa auxiliar a resolver os problemas inerentes a acumulação recolha e tratamento do lixo, a fim de se evitarem males maiores relacionados com a saúde publica e degradação do ambiente”.

A governante admitiu que o problema que resultou da acumulação de detritos, após a suspensão de contratos com as operadoras de recolha em Dezembro do ano passado, ganhou nova dimensão com as chuvas, e reconheceu que os seus efeitos poderiam ter sido minimizados se tivessem sido adoptadas medidas proactivas adequadas no que respeita à drenagem, controlo de infra-estruturas e controlo de construções anárquicas.

“Pagámos um elevado preço por estas incúrias, pois perderam-se várias vidas e muitas famílias viram as suas vidas difíceis degradaram-se”, assinalou Carolina Cerqueira, afirmando que quem “vivia abaixo do limiar da pobreza ficou ainda mais pobre”, o que considerou preocupante e que levou o Governo a procurar “uma solução expedita para ultrapassar no mais curto espaço de tempo a situação anómala” que se vive.

A ministra destacou que a comissão não pretende substituir-se ao governo de Luanda, liderado por Joana Lina, sendo antes “um seu auxiliar, para em conjunto encontrar solução de um problema gravíssimo, específico”.

Os trabalhos vão ser executados por empresas de construção que “voluntariamente se predispuseram a participar na operação de limpeza de grande envergadura” que se inicia na segunda-feira, bem como operadoras com tradição na recolha de lixo e forças armadas.

O ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, Pedro Sebastião, disse que serão “movimentados alguns efectivos da guarnição militar de Luanda”, sem especificar quantos militares estarão envolvidos.

Quanto às empresas de construção foram mobilizadas 12, segundo o ministro das Obras Públicas e Ordenamento do Território, Manuel Tavares, das quais cinco já iniciaram a “actividade de recolha do passivo de lixo existente”.

Manuel Tavares falou ainda sobre as soluções para a drenagem de Luanda, que envolvem elevados recursos financeiros, anunciando que vai ser feito um projecto de requalificação do rio Cambamba, que envolve 34 quilómetros.

A ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta admitiu que existem riscos de cólera na cidade.

“Foi para evitar uma crise de saúde pública que se tomaram estas medidas emergenciais”, disse, assegurando que o Governo tem estado a fazer vigilância epidemiológica sem ter nenhum caso notificado até ao momento.

A governadora Joana Lina rejeitou, por seu lado, a anulação do concurso público através do qual foram seleccionadas sete empresas sublinhando que “estão a trabalhar”, embora os efeitos não sejam imediatos, pois “houve um acumular de resíduos”.

“O concurso público mantém-se de pé, há contratos assinados, há obrigações de ambas as partes”, afirmou Joana Lina, que agradeceu a “ajuda” propiciada pelo Presidente da República para apoiar o esforço do governo provincial de Luanda (GPL).

O problema de gestão de resíduos sólidos na capital de Angola arrasta-se desde Dezembro de 2020, quando o GPL anunciou a suspensão dos contratos com empresas de limpeza e recolha de lixo, por incapacidade de liquidar uma dívida de 246 mil milhões de kwanzas (308 milhões de euros), indexada ao dólar.

A ministra das Finanças, Vera Daves, disse este sábado na conferência de imprensa que o modelo anterior era “insustentável” e foi necessário repensá-lo por que o Estado não tinha recursos financeiros para o manter, lembrando que há um passivo acumulado de mais de 200 mil milhões de kwanzas referente a 2018, 2019 e 2020.

Vera Daves adiantou que o Ministério está a negociar com as empresas a liquidação de parte desse passivo, através de uma combinação de soluções que passam por pagamento em dinheiro, via obrigações do Tesouro e créditos fiscais.

Em Fevereiro, o Presidente da República, João Lourenço, aprovou uma despesa de 34,89 mil milhões de kwanzas (44 milhões de euros), para aquisição de serviços de limpeza pública e recolha de resíduos sólidos.

Do concurso emergencial entretanto aberto, entre as 39 empresas que se candidataram, saíram vencedoras sete, que vão assegurar a limpeza dos nove municípios de Luanda.

No entanto, apesar de terem sido iniciados os trabalhos no final de Março, continuam a ser visíveis os amontoados de lixo em todas as zonas da província.

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