“Um trabalho histórico de conservação”: leopardos regressam ao parque moçambicano da Gorongosa

O parque moçambicano recebeu três leopardos adultos, dois machos e uma fêmea, e espera agora vir a ter “os seus primeiros filhotes de leopardos em décadas”. Os leopardos estão classificados como “vulneráveis” na lista vermelha da IUCN de espécies ameaçadas e perderam cerca de 65% da sua faixa histórica em África.

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REUTERS/Rupak De Chowdhuri

O Parque Nacional da Gorongosa (PNG), no centro de Moçambique, recebeu esta quarta-feira, 21 de Abril, três leopardos adultos, dois machos e uma fêmea, transferidos por via aérea desde a África do Sul, anunciou a instituição.

“Este é outro dia especial para a Gorongosa, um momento importante na restauração do Parque”, disse Pedro Muagura, administrador do parque, em comunicado. “Depois de muitos anos sem os podermos ver, estamos muito felizes em ter estes grandes e majestosos felinos a deambular pelo parque”, acrescentou.

O PNG passa assim a contar com cinco leopardos, os primeiros do regresso de uma espécie ao seu habitat. Há 50 anos, a zona acolhia uma população saudável de leopardos, mas décadas de guerra e caça furtiva dizimaram quase todos os carnívoros do parque, bem como as suas presas.

Depois de décadas de abandono, Greg Carr, filantropo norte-americano, estabeleceu em 2008 um acordo com o Governo moçambicano para restaurar o parque e as suas espécies. Graças ao projecto de recuperação, “há novamente presas suficientes para sustentar os grandes predadores”.

Um macho solitário oriundo de outra área foi visto por turistas e guias em 2018, o primeiro avistamento em mais de 15 anos, e uma fêmea foi transferida há cinco meses desde a África do Sul, estando já adaptada.

O parque espera agora que os leopardos acasalem e que a Gorongosa “possa ter os seus primeiros filhotes de leopardo em décadas” — as fêmeas dão à luz entre duas a cinco crias por parto e as mães ficam com os filhotes por cerca de dois anos, detalha o PNG. “Após a recuperação bem-sucedida dos leões”, que já são mais de 150, e da recente reintrodução de várias alcateias de mabecos, “os leopardos são os mais recentes membros do ‘clube dos carnívoros’ a retornar ao seu lugar legítimo no topo da cadeia alimentar da Gorongosa”, detalha o comunicado.

O PNG explica que todos os predadores “realizam funções ecológicas vitais”. “Nos últimos vinte anos, a população de macacos-cães explodiu devido à ausência de leopardos, o seu principal predador”, provocando um ‘efeito de cascata’ em todo o ecossistema.

Demasiados macacos-cães podem ter um impacto negativo nas populações de muitas espécies de aves, porque “atacam os ninhos e comem os ovos”. “Menos aves pode significar mais insectos e assim por diante”, exemplifica, pelo que “o retorno dos leopardos deve ajudar a controlar a população de macacos-cães e, eventualmente, trazer o ecossistema de volta ao equilíbrio”.

O regresso dos leopardos é classificado como um “trabalho histórico de conservação”. “Todos se juntaram para fazer isto acontecer”, referiu Rui Branco, director de conservação do parque, destacando o envolvimento “de vários parceiros” internacionais. Além do Projecto de Restauração da Gorongosa, a reintrodução dos leopardos contou com o apoio da Administração Nacional das Áreas de Conservação (ANAC), da Agência de Turismo e Parques de Mpumalanga (MTPA) da África do Sul e diversas organizações: Wildlifevets.com, Natura, Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), Fundação Oak e Pilatus Center.

Os leopardos estão classificados como “vulneráveis” na lista vermelha da IUCN de espécies ameaçadas e perderam cerca de 65% da sua faixa histórica em África, segundo a Panthera, uma organização de conservação de felinos.

O PNG é hoje uma das principais áreas de conservação de Moçambique e está igualmente a afirmar-se como um pólo de investigação, atraindo cientistas de várias partes do mundo. Localiza-se na província de Sofala, na extremidade sul do Vale do Rift do leste africano, com uma área de cerca de 4.000 quilómetros quadrados.

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