A cultura chegou à beira da estrada – e fica, até ao final de Abril, em gigantes outdoors

Uma nova startup portuguesa quer “democratizar a cultura” e levá-la para a rua, nas grandes cidades e nas aldeias do interior. Até ao final de Abril, o festival Reclam’Arte cultiva ilustrações à beira das estradas portuguesas.

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A Liter quer levar a cultura para palcos improváveis. O primeiro: a beira das estradas portuguesas, onde, todos os dias, milhares de pessoas perdem horas em longas filas de carros. “Os outdoors são um excelente meio de publicidade, por que não usá-los como telas? Para nós, este festival é sobre democratizar a cultura”, explica Tiago Magueta, um dos fundadores da Liter, sobre o festival Reclam’Arte, na rua até ao final de Abril.

Ao quilómetro 218 da A1, uma das personagens de Hugo van der Ding ficará, durante mais duas semanas, presa no trânsito, e indignada. Na mesma auto-estrada ficam as palavras do ilustrador Another Angelo e de MaisMenos. Na A3, sentido Braga/Porto, Sara Tarita apela à imaginação, e, na Maia, o cartoonista Vasco Gargalo ilustra um mundo em confinamento.

Cartaz do projeto de intervenção “MaisMenos”. Liter
Cartaz de Hugo van der Ding. Liter
Cartaz de Another Angelo. Liter
Cartaz de Vasco Gargalo. Liter
Cartaz de Sara Tarita. Liter
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Cartaz do projeto de intervenção “MaisMenos”. Liter

Tiago Magueta, Guilherme Rebola e Vasco Santiago, amigos e colegas na Universidade de Coimbra, começaram um despique durante o confinamento, em 2020. Aquele que lesse menos livros pagaria um jantar aos outros. Ainda não o adivinhavam, mas a aposta evoluiria para um compromisso mais sério quando se apercebessem da crise que abalava o sector cultural. “Caiu-nos a ficha quando a editora Cotovia fechou portas”, conta Tiago.

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Guilherme Rebola, Tiago Magueta e Vasco Santiago. Liter

Formados em Sociologia e Gestão, fora da indústria criativa, quiseram construir algo que ajudasse o sector e os artistas. Definem-se, agora, como “facilitadores” na interacção entre os criadores e o público.

“Queremos fazer algo em colaboração com os municípios do interior do país. Há muita vontade de fazer mais e muitas iniciativas incríveis. Tencionamos potenciar essa oferta cultural”, diz Guilherme Rebola. A sede da Liter é, aliás, numa aldeia do interior, Póvoa dos Mosqueiros, em Santa Comba Dão, terra natal da família de Vasco Santiago, o membro mais novo da equipa, com 22 anos.

“Nós vivemos em aldeias pequenas e percebemos que ainda nem toda a gente está na Internet. Por isso é que é fundamental para nós democratizar a cultura”, justifica Tiago. A Liter já reuniu com os representantes de vários municípios do interior, como Figueira de Castelo Rodrigo, Góis ou Mortágua. Está, também, empenhada em conhecer as dificuldades de divulgação cultural noutros países de língua oficial portuguesa, e já conversou com o presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz, na ilha de Santiago, em Cabo Verde.

É provável que, no futuro, exista uma nova edição do festival Reclam’Arte, com mais artistas convidados, mas Tiago e Guilherme, em entrevista ao P3, ainda não revelam detalhes.

“Os jovens deveriam arregaçar mais as mangas e descobrir como fazer algo por uma causa que acham nobre. Mas, muitas vezes, a preocupação com o sucesso académico é tão grande que ficam presos ao que já conhecem, a um percurso igual para todos”, concordam os dois amigos de faculdade, ambos de 27 anos. “Queremos dar um cunho pessoal ao que fazemos, e criar novas memórias, para nós e para os outros.”

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