A cultura é um bem essencial

É fundamental a mobilização regional e nacional em prol da cultura e estamos orgulhosos por Coimbra, e toda esta região, estar nesse caminho, através da candidatura a Capital Europeia da Cultura 2027.

“Mais importante do que o destino é a viagem.” A frase é de Eduardo Lourenço e ilustra bem o simbolismo que a candidatura de Coimbra a Capital Europeia da Cultura 2027 (CEC 2027) mobiliza. Não deixando de ser uma homenagem ao filósofo – uma das maiores figuras da intelectualidade portuguesa, que em vida manifestou entusiasmo com a candidatura de Coimbra, com raízes culturais nesta região, a qual ainda chora o seu desaparecimento, em Dezembro passado –, esta candidatura representa um compromisso mais profundo, e de longo prazo, com a cultura. O desancorar desta viagem sem regresso deu-se através da instalação, por parte da Câmara Municipal de Coimbra, de um Conselho Municipal da Cultura, sendo este o ponto de partida que colocou, desde logo, a candidatura no rumo certo. Fazer de Coimbra a Capital Europeia da Cultura pode ser o nosso destino e a viagem que nos espera, promete agitar as marés da cultura portuguesa – e muito além de 2027.

Para esta jornada, juntaram-se, no mesmo barco, colectivos, instituições e todos os agentes culturais da região de Coimbra, que podem, agora, manifestar em uníssono a vontade de manter acesa a chama da arte, em todas as suas frentes e vertentes, através do Conselho Municipal da Cultura. Esta iniciativa, sendo um dos objectivos delineados para a candidatura de Coimbra a CEC 2027, concretiza uma velha aspiração do sector: ter um lugar central no local onde são tomadas as decisões que moldam a vida cultural da região. A partir daqui, a cultura presta o seu contributo para o desenvolvimento sustentável da comunidade. A partir daqui, estão criadas as condições para que o sector ganhe solidez e permeabilidade.

Assim partimos, com segurança, nesta viagem sem fim, num momento em que a cultura em Portugal anseia por um salva-vidas. A pandemia mostrou-nos, por um lado, a importância que a cultura tem para a sanidade colectiva. A música, o cinema, o teatro, a dança, a pintura e qualquer outra forma de arte foram essenciais, durante o confinamento, para nos proteger do enfado e das armadilhas da nossa própria mente. Redescobrimos, durante esta crise sanitária, como necessitamos destas manifestações para respirar, conhecer os nossos próprios fascínios, questionar as origens das nossas convicções… para nos tornarmos, no fundo, melhores seres humanos e com sentido de sociedade.

No entanto, e por outro lado, o sector da cultura foi dos mais penalizados, lutando para não sucumbir a um modelo político e económico que o sufoca. Todo o mercado da cultura deverá ter sofrido, no último ano, uma quebra média de 87% na União Europeia. Em Portugal, o decréscimo foi de 80% e, para agravar ainda mais este contexto, a Visão Estratégica para Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030, elaborada por António Costa Silva, e que diz respeito à utilização dos fundos europeus, excluiu, por completo, o sector da cultura. O mesmo é dizer que não reconhece a cultura como um importante pilar para o desenho material e imaterial da nossa comunidade.

É, por isso, tão importante a mobilização regional e nacional em prol da cultura e estamos orgulhosos por Coimbra, e toda esta região, estar nesse caminho. O “Pacto da Cidade” para a candidatura a Capital Europeia da Cultura foi aprovado por unanimidade, denotando um acordo raro entre todos os partidos políticos, em torno da valorização cultural da região e do incentivo à mobilização de todos os agentes, para que não voltemos a deixar o sector à deriva. Porque sim... a cultura é um bem essencial!

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