Covid-19: e quando terminar a licenciatura?

O futuro reserva-nos uma nova crise económica e social causada pela pandemia covid-19. Para quem se está prestes a licenciar, ou a quem só falta um ano para tal, como é o meu caso, o medo do que o futuro trará é uma realidade constante.

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Miguel Manso

Estou a meio da minha licenciatura. Daqui a exactamente a um ano estarei nos últimos meses de “quase licenciada”. E devo admitir que estou com algum receio.

Deparo-me com receios acrescidos aos habituais de alguém que está quase a terminar o curso. A covid-19 e a nova realidade associada das restrições que parecem intermináveis só vieram dar a certeza do futuro incerto que nos espera.

Se já antes questionávamos o que fazer após a universidade, agora ainda mais. Dou por mim com medo de realizar um desejo que sempre tive: ir de Erasmus. Concorro, sei que sou colocada numa das instituições que escolhi, mas... e quando chegar a altura de ir? E se o país em questão estiver em confinamento? Ou se o número de casos de covid-19 for tão mau que o medo falará mais alto? No final, sempre posso decidir não ir, mas e aquele sentimento que irá ficar sempre connosco de não termos realizado tudo o que quisemos?

É uma questão com a qual eu e muitos colegas nos temos debatido. Já temos tantos entraves nas nossas vidas pessoais e académicas, devíamos deixar que a covid-19 provoque ainda mais esta? Haverá mesmo resposta?

Desde que entrei para o ensino superior ainda só tive um semestre totalmente presencial e felizmente pude usufruir da liberdade que ainda havia. Pude ir à praxe, pude sair com as minhas amigas, pude sentir-me na “experiência universitária”. E fico genuinamente com pena daqueles que entraram no ano passado e que irão entrar este ano e que não puderam e não poderão experienciar o mesmo.

Não haver interacção humana presencial dificulta todo o processo de aulas e avaliações. O cansaço é muito maior e sentimo-nos mais sobrecarregados. E, às vezes, parece haver uma falta de compreensão devido às quantidades de trabalho que nos dão. A situação das aulas online é stressante para ambas as partes. Temos de ser mais tolerantes e compreensivos. A covid-19 podia também aderir à onda de compreensão e decidir terminar a sua licenciatura, recebendo inclusive um diploma em conjunto com os alunos que terminam o curso em Maio/Junho de 2021. 

De uma forma geral, acho que partilhamos todos os mesmos receios. O mundo lá fora e o mercado de trabalho sempre foram complicados e muito competitivos. É difícil saber o que realmente nos espera. Licenciatura feita, e depois? Mestrado ou trabalhar? Se escolhermos continuar o percurso académico - que mestrado a escolher, em que área, na mesma ou noutra universidade? E ainda há a opção de irmos estudar para o estrangeiro.

Estando numa licenciatura da área de Ciências Sociais, sinto que é quase obrigatório tirar mestrado; apenas como licenciada prevejo que terei poucas ou nenhumas oportunidades de trabalho, a nível nacional e no estrangeiro, mesmo por muito boa que a média final seja. Ao contrário de, por exemplo, uma licenciatura da área da saúde como Terapia da Fala, em que no fim da licenciatura o aluno é automaticamente terapeuta e as suas hipóteses de encontrar emprego sobem drasticamente.

Os meus maiores medos são ficar desempregada e não conseguir trabalhar na área. Ainda para mais, o futuro reserva-nos uma nova crise económica e social causada pela pandemia covid-19. Para quem se está prestes a licenciar, ou a quem só falta um ano para tal, como é o meu caso, o medo do que o futuro trará é uma realidade constante.

Questionei algumas pessoas que irão terminar a licenciatura este ano lectivo, também na área de Ciências Sociais, e todos decidiram prosseguir estudos académicos porque sentem que sem um mestrado o mercado de trabalho se irá tornar ainda mais reduzido e com ínfimas hipóteses de encontrar algo na área. E, já com mestrado, a covid-19 veio fechar portas aos jovens que ainda há pouco tempo se tinham descoberto. E ainda acrescem as dificuldades a nível económico que começaram a surgir nos seios familiares.

Quando ingressamos no ensino superior, chegamos com o objectivo de querer construir um bom futuro e ter uma determinada carreira profissional. À medida que nos encontramos mais próximos de terminar o curso, mais obstáculos começamos a encontrar, que nos dificultam os nossos objectivos profissionais. A covid-19 é mais um obstáculo para toda a população, ainda maior para os jovens universitários porque não o podemos ultrapassar individualmente. É uma questão de saúde pública nacional e internacional e, se não tomarmos todos as medidas correctas e fizermos o mais acertado, tornar-se-á um obstáculo permanente.

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